Caçadores de histórias

Ilustrações: Luiz Maia, Acervo CHC, Mariana Massarani e Walter

Mula sem cabeça, saci-pererê, curupira, cuca… Esses e muitos outros mitos fazem parte do folclore brasileiro. Dependendo do lugar, essas lendas ganham novos fatos, uma pitada de mistério aqui, um susto a mais ali e ficam ainda mais curiosas e interessantes. Foi o que descobriram alunos de Manaus, a capital do Amazonas. Eles saíram pela cidade em busca de histórias que sobreviviam na memória do povo. Ouviram muitos relatos e reuniram os melhores no livro ilustrado Universo mítico da Amazônia – Resgatando a arte de contar histórias.

Com o pé na rua

Para fazer essa obra, os estudantes da sétima série da Escola Municipal Professora Francisca Pereira de Araújo, primeiro, consultaram a biblioteca e leram livros de autores amazonenses que falavam sobre seres lendários. Depois, percorreram o bairro de Flores, em Manaus, à procura de bons contadores de histórias.

Muitas pessoas foram entrevistadas. Eram empregados domésticos, trabalhadores rurais, professores e outros moradores da região, que sabiam contar histórias interessantes. “Os alunos fizeram filmagens, gravaram as histórias e reuniram todo o material necessário para a confecção do livro”, conta a professora Darcley Abreu dos Santos, coordenadora do projeto, que foi criado para despertar o hábito da leitura entre os estudantes por meio de histórias recolhidas por eles mesmos.

Uma das alunas que saiu às ruas em busca de boas histórias foi Marciane Silva da Silva, de 15 anos. A estudante conta que o período de pesquisa representou um aprendizado e tanto. “Muitas pessoas acham que pesquisar é só ir à biblioteca e copiar livros. Mas eu aprendi que pesquisar é mais: é buscar conhecimento com as coisas ao nosso redor”, conta ela.

Muitas emoções

O resultado do trabalho de estudantes como Marciane não poderia ter sido melhor. Onze histórias foram recolhidas e muitas são de arrepiar, como a do caçador que se aposentou por conta do Curupira – um menino que tem os pés virados para trás e persegue quem caça animais na floresta – ou a da mãe d’água que roubava bebês. Todas contadas pela população local, que jura que tudo é verdade.

Para Marciane, a história do homem que foi levado pelo boto foi a mais interessante que ela teve a oportunidade de recolher. “A pessoa que a contou chorava bastante e quase não conseguia terminar. Por muitas vezes, eu me peguei relembrando aquela cena”, conta a estudante.

O livro ilustrado Universo mítico da Amazônia – Resgatando a arte de contar histórias tem sido usado nas escolas da região, em palestras e oficinas, mas ainda aguarda a proposta de uma editora para ser publicado. A obra traz até uma lenda que nenhum outro livro sobre mitos amazonenses já apresentou A sereia encontrada na praia da Lua. Tem gente que jura que é pura verdade. E você, o que acha?

Matéria publicada em 11.05.2009

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Cathia Abreu

Adoro aprender coisas novas. Tenho a sorte de trabalhar me divertindo e fazendo descobertas todos os dias.

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