O Nordeste brasileiro é famoso pelo calor, pelo sol de rachar e por seu clima muitas vezes árido, certo? Mas paleontólogos fizeram uma descoberta de fazer qualquer um cair para trás. Eles encontraram, no Piauí, indícios da presença de… geleiras. Isso mesmo, você não leu errado: blocos de gelo gigantes, que pesavam muitas toneladas, já foram comuns naquela região.
Antes das geleiras tomarem conta do Piauí, um mar amplo e raso cobria quase todo o nordeste do Brasil. “Durante o início e a parte média do período conhecido como Devoniano, os antigos mares da região eram habitados por diversos tipos de invertebrados, peixes e algas”, conta a paleontóloga Luiza Ponciano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
E como foi então que o gelo tomou conta do lugar? Para entender melhor essa história, vamos voltar um pouquinho no tempo – cerca de 356 milhões de anos, até o período Devoniano, quando a Terra sofreu um intenso resfriamento.
Por milhões de anos, diferentes regiões do planeta – até aquelas que hoje são lugares muito quentes – ficaram cobertas por geleiras. Hoje, todo esse gelo que estava sobre o Piauí já derreteu, mas alguns registros dessa glaciação ainda podem ser encontrados lá no nordeste do Brasil.
As principais evidências estão no município de Brejo do Piauí, no sul do estado. São os chamados “afloramentos com pavimentos estriados”, superfícies onde ainda se pode ver o resultado do deslocamento das geleiras – elas se moviam pela região e atuavam como uma grande lixa, raspando a superfície que estava sob o manto de gelo. “Além das marcas encontradas no pavimento, esse movimento das geleiras também produziu fragmentos de rochas”, conta Luiza, que realizou o estudo junto com o geólogo Mario Caputo.
Tudo isso ficou preservado por mais de 360 milhões de anos. O pavimento esculpido pelas geleiras e as rochas formadas quando o gelo derreteu permaneceram enterradas. Com o passar do tempo, foram expostos novamente pela erosão das camadas superiores de terra.