Beto Pimentel nasceu em 1967, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. É físico, mas desenha desde criança, quando costumava ler os gibis dados por sua tia-avó. Fez muitos cursos e acabou desenvolvendo habilidades para criar histórias em quadrinhos. Já Luiz Pessôa – ou Luiz Cartoon, como é conhecido por todos – nasceu em 1973, na cidade do Rio de Janeiro. Ele – que tomou gosto pelos quadrinhos também na infância – há dez anos trabalha como ilustrador, programador visual, cartunista, entre outras funções, além de coordenar oficinas de quadrinhos junto com o amigo Beto. Os dois conversaram com a Ciência Hoje das Crianças e contaram como pode ser instrutivo e divertido fazer histórias em quadrinhos.
Ciência Hoje das Crianças – O que é necessário para criar histórias em quadrinhos?
Beto Pimentel – Em primeiro lugar, imaginação, criatividade e sensibilidade. Em segundo lugar, papel, lápis, borracha e, se possível, uma caneta. Como em toda arte, o desenhista de quadrinhos quer contar algo que achou interessante de alguma maneira. Para tanto, ele precisa, claro, dominar certas técnicas narrativas exclusivas dos quadrinhos, como o uso de balões. O mais importante no processo criativo de uma boa história em quadrinhos, no entanto, é a dedicação, que significa muita pesquisa, atenção, sensibilidade, percepção, trabalho duro e, às vezes, paciência.
CHC – Além dos desenhos, que fazem o maior sucesso, o texto também aparece nas histórias. O que é mais importante?
Luiz Cartoon – Acho que o que faz os quadrinhos serem tão interessantes é que muitas vezes os dois se complementam. Há quem diga que o leitor começa a se interessar por uma história em quadrinhos pelo desenho, mas continua até o final por causa do texto. Se a gente considerar como “texto” a idéia contida no roteiro, acho que isso é verdade. Nos quadrinhos, até as letras do texto podem ter significado. Por exemplo: a fala de uma personagem pode sempre aparecer com uma letra mais caprichada e bem desenhada do que a fala das outras personagens, querendo dizer, talvez, que aquela é particularmente mais cuidadosa e detalhista.
CHC – Qual a diferença entre cartum, tirinhas e histórias em quadrinhos?
Beto Pimentel – É o formato. Chamamos de histórias em quadrinhos, em geral, desenhos seqüenciais de mais de uma página em que uma história mais longa é desenvolvida. Nas tirinhas, o formato é reduzido em apenas alguns quadros. Elas foram desenvolvidas especialmente para os jornais e feitas para as notícias do dia-a-dia, bem como para atrair crianças para a leitura. Já o cartum consiste em um desenho em que uma situação – na maioria das vezes engraçada – é apresentada. Hoje, para diferenciar, chama-se cartum o tipo de desenho que traz um humor mais universal, enquanto a charge é caracterizada pelo humor que só faz sentido num determinado lugar e numa determinada época. Por exemplo, a charge política que sai nos jornais todos os dias.
CHC – O que vocês dois diriam para quem quer criar histórias em quadrinhos?
Beto Pimentel – Eu diria que, se ela gosta de desenhar e de ter idéias, ela tem tudo para ser um bom cartunista. Porém, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, desenhar é apenas uma parte do que o desenhista faz. Os grandes ilustradores e quadrinistas – como são chamados os autores de histórias em quadrinhos –, em primeiro lugar, são pessoas que lêem muito, vão a exposições de arte, assistem a filmes, conversam com outras pessoas sobre o que interessa a eles etc. Um bom ilustrador deve ser capaz de olhar para o esboço do desenho e ver como ele pode ficar melhor. Isso exige muito desapego à própria criação, além de persistência, capacidade de observação e criatividade. Além disso, é preciso treinar com afinco até conseguir fazer isso bem.
Luiz Cartoon – A resposta do Beto está mais do que completa. É necessário muito treino, mais treino, e mais treino nas horas vagas! E este treino deve ser divertido e prazeroso… O mais importante em histórias em quadrinhos é a diversão! O jovem cartunista deve procurar um tema de seu interesse, explorá-lo e encontrar uma forma de torná-lo interessante para contar aos outros por meio dos quadrinhos. Deve tornar este tema engraçado, dramático, interessante a ponto de prender a atenção dos leitores. Ao conseguir isto terá alcançado seu objetivo.