Baixinho invocado

Quando um cachorro estreita os olhos e mostra os dentes você já sabe o que ele está sentindo: raiva. As expressões faciais servem para expressar os sentimentos tanto de animais quanto de pessoas. E foram a inspiração para um grupo de paleontólogos cariocas e mineiros escolherem o apelido de “baixinho invocado” para uma recém-descoberta espécie de crocodilo pré-histórico!

O (i)Gondwanasuchus scabrosus(i) pertence ao grupo dos crocodilos, mas, diferentemente de seus parentes atuais, tinha braços e pernas mais alongados e vivia mais na terra do que na água (Ilustração: Rodolfo Nogueira)

O (i)Gondwanasuchus scabrosus(/i) pertence ao grupo dos crocodilos, mas, diferentemente de seus parentes atuais, tinha braços e pernas mais alongados e vivia mais na terra do que na água (Ilustração: Rodolfo Nogueira)

Seus olhos eram grandes e os ossos das pálpebras, salientes. Os dentes, bastante pontiagudos. “Essas características lhe deram o apelido”, brinca o paleontólogo Fabiano Iori, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que participou do estudo. Já o nome científico escolhido foi Gondwanasuchus scabrosus.

Os cientistas encontraram fósseis de crânio e mandíbula do animal, que deve ter vivido no Brasil há cerca de 80 milhões de anos. “Ele tinha quase 1,5 metro de comprimento e pesava só 40 quilos, mais ou menos o tamanho de um menino de nove anos”, conta Fabiano.

O fóssil do crânio foi encontrado quase inteiro e mostrou aos pesquisadores que o bicho tinha uma certa cara de mau – daí seu apelido, “baixinho invocado” (Foto: Fabiano Iori)

O fóssil do crânio foi encontrado quase inteiro e mostrou aos pesquisadores que o bicho tinha uma certa cara de mau – daí seu apelido, “baixinho invocado” (Foto: Fabiano Iori)

Apesar de pequeno, o G. scabrosus era um predador carnívoro – é o que revelam seus dentes, afiados e serrilhados. Fabiano completa: “o focinho alto e a posição das narinas e olhos mostram que o animal vivia na terra, dividindo o ambiente com dinossauros e outros grandes caçadores”.

Observando o crânio do crocodilo, os pesquisadores concluíram que a posição dos olhos permitia a ele uma visão de binóculo e em três dimensões, que o ajudavam a caçar melhor e a se proteger dos animais maiores.

Fabiano conta, ainda, que o fóssil foi encontrado em 2008, em uma região de escavações chamada Fazenda Buriti, no interior de São Paulo, logo depois da remoção do esqueleto do Baurusuchus salgadoensis – outra espécie de crocodilo pré-histórico. “Esses fósseis ajudam a montar o cenário do Brasil no período Cretáceo, que era quente e semi-árido”, explica.