Parceiros na natureza

Para fazer a polinização, algumas plantas podem contar com ajudantes bem curiosos

Transferir grãos de pólen entre flores é um processo essencial para a reprodução de grande parte dos vegetais. E muitas plantas produzem néctar em suas flores, como forma de atrair animais que, sem querer, acabam ajudando na polinização.

Ao pensar nisso, é comum imaginarmos abelhas e beija-flores passeando de flor em flor. Mas não se engane: a polinização zoofílica – aquela que conta com a ajuda de animais – pode ser executada por muitos outros bichos, alguns inesperados!

Cientistas brasileiros têm descoberto fatos surpreendentes nas relações entre plantas e seus polinizadores. Uma dessas descobertas envolve uma curiosa perereca das restingas (vegetação próxima das praias) do Rio de Janeiro, conhecida por ser o único anfíbio do mundo que se alimenta preferencialmente de frutos. Recentemente esta espécie foi observada se alimentando também de néctar, entrando e saindo das flores com a carinha suja de pólen. Ou seja, além do seu já conhecido papel na dispersão de sementes, ela também parece ser uma boa parceira das plantas da restinga quando o assunto é polinização.

A rara perereca-comedora-de-frutos (Xenohyla truncata) está ameaçada de extinção, apesar do seu importante papel na polinização e dispersão de sementes de plantas da restinga.
Foto Carlos Henrique de Oliveira Nogueira

Uma planta bem diferente, que vive escondida no subsolo da Mata Atlântica, também está sendo investigada: é a esponja-de-raiz. Suas flores, parecidas com cogumelos, são as únicas partes visíveis na superfície. Somente há alguns anos, foi descoberto que elas são polinizadas por diversos animais, como abelhas, vespas, aves, camundongos e até gambás! Mas as surpresas não pararam por aí…

Em algumas áreas, o morcego-beija-flor está entre os principais polinizadores da esponja-de-raiz. O fato curioso é que as flores ficam no chão e são protegidas por brácteas (estruturas que lembram escamas), bem diferente de outros tipos de flores normalmente polinizadas por morcegos. Curiosamente, os morcegos só conseguem acessar o néctar depois que gambás e pássaros “descascam” as flores. Ainda assim, eles precisam pairar no ar ou mesmo pousar no chão para sugar o néctar, ficando neste momento expostos ao ataque de predadores. Só mesmo um lanchinho muito especial para valer todo este sacrifício!

À esquerda, um morcego-beija-flor (Glossophaga soricina), pousado no chão, ele lambe o néctar da estranha planta esponja-de-raiz (Scybalium fungiforme).
Foto Felipe Amorim

Veja os morcegos se alimentando
do néctar da esponja-de-raiz:


vinicius_novo

Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos

Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.

Matéria publicada em 07.06.2023

COMENTÁRIOS

  • Alunos do 4º B do Colégio Marista Alexander Fleming. Campo Grande/MS

    Olá, Revista CHC!

    Somos alunos do 4º ano do Ensino Fundamental I e navegamos no site da Revista CHC para escolher uma matéria e pubicar uma Carta do Leitor, que é o gênero textual que estamos aprendendo na escola. Escolhemos a matéria Parceiros na Natureza da Edição 344 – junho 2023 e achamos ela muito legal e interessante! Adoramos aprender que há outros animais, além da abelha e do beija-flor, que participam da polinização das plantas!

    Ao longo desse trimestre, lemos várias matérias e viramos fãs da Revista CHC. Gostaríamos que publicassem o nosso comentário!

    Publicado em 15 de junho de 2023 Responder

  • VIVIANE HENRIQUE PELES DE SUSA

    Nossa adorei essa matéria! Sou do 3 ano b encino fundamental do C B M ( Colégio Batista Mineiro) minha professora Dináh indicou o CHC para fazer um para casa de Língua Portuguesa! É tão legal que estou em dúvida entre parceiros da natureza, quero saber…,vizinhos em apuros e quando a terra treme. Dou nota 10000000000!!!!!!! Esse comentário vai estar no nome da minha mãe mas o meu nome é SARAH HENRIQUE DE SOUSA PELES.

    Publicado em 26 de junho de 2023 Responder

  • Bárbara Tavares Melo

    Adorei essa matéria!

    Publicado em 1 de novembro de 2023 Responder

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