Marte é vermelho! Marcianos são os habitantes de marte! Opa! A primeira frase a ciência pode afirmar: o planeta realmente tem um aspecto avermelhado ao ser observado da Terra. Já a segunda, sobre seres extraterrestres, xiii… Puxa uma cadeira e escuta essa!
O matemático e astrônomo italiano Galileu Galilei foi um dos primeiros cientistas a observar Marte. Em 1610, ele chegou a pensar que o planeta não tinha uma forma perfeitamente esférica. Outros observadores já sugeriam que Marte apresentava uma cor avermelhada. Em 1659, o astrônomo holandês Christiaan Huygens conseguiu concluir que o período de rotação de Marte seria igual ao da Terra, o que foi confirmado anos depois por outro cientista, o italiano Giovanni Cassini. Hoje sabemos que a duração de um dia marciano é 37 minutos maior do que o dia na Terra.
Huygens e Cassini também observaram a existência de calotas polares e tempestades de poeira em Marte. Na década de 1870, o astrônomo alemão William Herschel concluiu que o planeta vermelho, de maneira parecida com a Terra, deveria ter quatro estações durante o ano. Ele também identificou imensas áreas escuras na superfície, que seriam oceanos. Além disso, observou que as calotas polares eram compostas por gelo e neve, e que, de tempos em tempos, desapareciam em um hemisfério para aparecer no outro. Nesta época, já havia muitos mapas para representar a superfície marciana – os mais famosos foram os do astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, que apresentava algo que ficaria conhecido como “os canais de Marte”.
Aqui começa a confusão… No trabalho que Schiaparelli realizou em 1877, ele destacou a presença de diversas linhas finas que cortavam a superfície do planeta, dando a elas o nome de “canali” (canais, em português). Muitos desses canais se cruzavam, e uma parte deles seguia para locais escuros, que se acreditou serem preenchidos por água. Bom… Lembra que já se sabia que as calotas polares, formadas por gelo e neve, desapareciam de um hemisfério em determinada época e apareciam em outro? Pois é, daí veio a ideia errada de que os tais canais seriam como rios artificiais construídos por uma civilização marciana para levar água de uma região do planeta para outra. Isso porque não se acreditava na existência de chuva em Marte.
O defensor mais ilustre da presença de vida inteligente no planeta vermelho provavelmente foi o astrônomo estadunidense Percival Lowell, que, em 1894, chegou a fundar um observatório no Arizona, nos Estados Unidos, para investigar Marte. Apesar da ideia errada sobre a civilização marciana, Lowell foi responsável pela investigação que levou à descoberta de Plutão. Já os supostos canais marcianos foram associados a ilusões de ótica e a falta de instrumentos de observação adequados, como riscos nas lentes dos telescópios utilizados.
Ao longo da história, as missões espaciais a Marte mostraram que, embora boa parte das conclusões vindas das observações corresponderem à realidade, não existiam os canais e nem marcianos.
Eder Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo
Sou paulista, e já nem lembro quando nasci… Sempre fui curioso sobre o porquê das coisas, e desde criança tinha meu clubinho da ciência. Hoje sou professor de Geofísica e continuo xereta e buscando aprender muitas coisas, principalmente sobre a Terra e o Sistema Solar.
Matéria publicada em 04.05.2023