A história da Terra começou há 4,6 bilhões de anos, quando o planeta surgiu. De lá para cá, muita coisa se passou: os mares e os continentes se formaram, houve épocas de muito frio e de muito calor, os seres vivos surgiram e se espalharam… Para contar essa história longa, os cientistas resolveram dividi-la em “capítulos” – o mais recente está prestes a ser incluído nos livros. Seu nome? Antropoceno.
Os 4,6 bilhões de anos de nosso planeta podem ser divididos em eras. As eras, por sua vez, são divididas em períodos e os períodos, em épocas. Assim, podemos dizer, por exemplo, que os dinossauros surgiram na era Mesozoica, no período Triássico, na época Superior. Atualmente, estamos na era Cenozoica, no período Quaternário. Quanto à época, até agora dizíamos ser o Holoceno, mas é isso mesmo que a ciência está prestes a mudar com a inclusão do Antropoceno.
O Holoceno começou 11,7 mil anos atrás, após o último período glacial ou Era do Gelo. Você pode imaginar como o mundo era diferente naquela época: para começar, a espécie humana (surgida há aproximadamente 150 mil anos, na era Cenozoica, no período Quaternário, na época Pleistoceno) ainda não modificava com tanta intensidade o seu hábitat.
Mas a ação do homem sobre o planeta é a marca do Antropoceno – vem daí o seu nome, pois anthropo significa “humano”, em grego, e ceno quer dizer “novo”, na mesma língua. A proposta de criação dessa nova época na história da Terra baseia-se na maneira como o planeta se modificou nos últimos séculos: florestas foram desmatadas, bombas foram detonadas, e até a configuração de rios e lagos foi modificada. É ou não é uma tremenda mudança?
Se o Antropoceno começou, quando foi?
Para ser considerado oficialmente um novo capítulo da história da Terra, o Antropoceno precisa ocorrer ao mesmo tempo em todo o planeta e apresentar evidências que reflitam seus limites em relação ao período anterior. Por exemplo, a ação humana espalhou plásticos e outros poluentes, influenciou a distribuição de espécies animais e perfurou poços profundos para explorar petróleo, deixando marcas em sedimentos e rochas marinhos. Nisso os cientistas, em geral, concordam.
O grande desafio, agora, é estabelecer de maneira exata quando o Antropoceno começou. Há muitos pesquisadores se debruçando sobre essa questão, incluindo geólogos, paleontólogos, biólogos, botânicos, oceanógrafos, meteorologistas e cientistas sociais. “Todas as épocas da história geológica da Terra foram definidas com precisão pela União Internacional de Ciências Geológicas”, disse à CHC a oceanóloga Juliana Assunção Ivar do Sul. Precisamos fazer o mesmo com o Antropoceno.
Alguns acreditam que essa nova época começou junto com a Revolução Industrial, no século 18, quando a população humana atingiu um bilhão de pessoas e o funcionamento das fábricas aumentou significativamente a concentração de gás carbônico na atmosfera. Outros, que o marco do início do Antropoceno é bem anterior, datando de milhares de anos, e deve considerar os primeiros impactos do homem sobre a Terra – como a caça e o desmatamento para atividades agrícolas. Por fim, há quem acredite que o Antropoceno começou na metade do século 20, quando as mudanças causadas pelo homem tomaram um ritmo mais acelerado, em especial após a Segunda Guerra Mundial e a explosão de bombas atômicas que deixaram marcas na crosta terrestre.
O martelo deve ser batido ainda em 2016, quando muitos cientistas dedicados ao assunto estiverem reunidos no Congresso Internacional de Geologia, que acontecerá na Cidade do Cabo, na África do Sul. O que será que eles vão decidir?
Para Juliana, o que importa é reforçar a importância da ação humana sobre o planeta. “O Antropoceno é resultado da intensa e profunda influência do homem sobre a Terra. É importante que ele seja reconhecido oficialmente para que todos tenham noção do tamanho dessa influência e das consequências associadas a ela”, argumenta.