Todo mundo já ouviu falar em cobras venenosas? Que assunto horripilante! Os leitores Laura e Rafael Pires escreveram para a CHC perguntando sobre ele. Os dois querem descobrir como identificar se uma cobra é ou não venenosa. Para me ajudar com essa questão eu pedi ajuda ao biólogo Henrique Caldeira Costa, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Primeiro, vamos diferenciar ‘peçonhento’ de ‘venenoso’. Henrique explica que todo animal que tem alguma toxina que consiga injetar ativamente no inimigo é peçonhento: abelhas, escorpiões, aranhas e algumas serpentes são alguns exemplos. Já aqueles que possuem toxinas, mas não conseguem injetá-las no inimigo são venenosos. São animais que geralmente precisam ser mordidos ou apertados para expelir o veneno. É o caso de alguns sapos, peixes, borboletas e besouros.
Quando falamos em cobras venenosas, geralmente estamos falando, na verdade, de espécies peçonhentas, ou seja, que usam seus dentes para injetar o veneno nas presas.
Uma tarefa nada fácil
Até uns anos atrás os livros escolares ensinavam que, para uma serpente ser peçonhenta, bastaria que ela tivesse cabeça triangular, pupila vertical e uma cauda que afina bruscamente. “Isso não funciona aqui no Brasil, onde são conhecidas quase 400 espécies diferentes de serpentes”, afirma Henrique. “Talvez essa ideia tenha vindo de Portugal, pois lá há apenas dez espécies de cobras, das quais só duas são peçonhentas e possuem exatamente essas características descritas acima, que as diferenciam das outras serpentes daquele país”.
Como a riqueza de espécies de serpentes do Brasil é muito maior, identificar uma serpente peçonhenta aqui dá um pouco mais de trabalho e requer cuidado, até mesmo porque algumas cobras não-peçonhentas imitam o padrão de cor e até o comportamento de espécies peçonhentas. Por isso, Henrique sempre recomenda que, em caso de encontro com uma serpente, é melhor deixá-la onde está – se isso acontecer na cidade, ligue para o corpo de bombeiros ou para a polícia ambiental para retirarem o animal.
Tipos de serpentes peçonhentas
Algumas espécies de serpentes possuem, atrás dos olhos, pequenas bolsas onde o veneno fica alojado. Para liberá-lo, elas contam com um canal ligado a dentes especiais, por onde o veneno passa. A cobra-cipó Philodras olfersii, por exemplo, tem um dente inoculador localizado no fundo da boca – esse dente é maior que os demais e possui um sulco por onde o veneno escorre.
Mas as principais serpentes peçonhentas do Brasil apresentam o dente na frente da boca: pequeno e com sulco por onde escorre o veneno, como as corais-verdadeiras; ou grande e oco como um canudo, como no caso das serpentes conhecidas como víboras.
Segundo Henrique, existem, no Brasil, cerca de 30 espécies diferentes de víboras. “Todas apresentam uma característica que facilita sua identificação: a fosseta loreal, um órgão especial que fica entre o olho e a narina e que ajuda a serpente a detectar variações muito pequenas de temperatura”, explica. A cascavel, a surucucu – também conhecida como pico-de-jaca – e as jararacas (jararaca, jararacuçu, urutu, cotiara, caiçaca, dentre outras) são serpentes desse grupo.
Resumindo, diferenciar, pelo olhar, uma serpente peçonhenta de uma não peçonhenta pode ser muito complicado. “Entre as espécies brasileiras, apenas as víboras são mais fáceis de identificar – se tem fosseta loreal, é uma víbora, portanto, é peçonhenta”, diz o biólogo. Mesmo assim, as pessoas jamais devem se aproximar de uma serpente para ver se ela tem uma fosseta loreal ou não. Isso pode ser perigoso!