Venenosas ou não, eis a questão

Todo mundo já ouviu falar em cobras venenosas? Que assunto horripilante! Os leitores Laura e Rafael Pires escreveram para a CHC perguntando sobre ele. Os dois querem descobrir como identificar se uma cobra é ou não venenosa. Para me ajudar com essa questão eu pedi ajuda ao biólogo Henrique Caldeira Costa, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Existe no mundo uma enorme variedade de serpentes. Como saber quais são peçonhentas? A resposta não é fácil. (foto: Wikimedia Commons)

Existe no mundo uma enorme variedade de serpentes. Como saber quais são peçonhentas? A resposta não é fácil. (foto: Wikimedia Commons)

Primeiro, vamos diferenciar ‘peçonhento’ de ‘venenoso’. Henrique explica que todo animal que tem alguma toxina que consiga injetar ativamente no inimigo é peçonhento: abelhas, escorpiões, aranhas e algumas serpentes são alguns exemplos. Já aqueles que possuem toxinas, mas não conseguem injetá-las no inimigo são venenosos. São animais que geralmente precisam ser mordidos ou apertados para expelir o veneno. É o caso de alguns sapos, peixes, borboletas e besouros.

Quando falamos em cobras venenosas, geralmente estamos falando, na verdade, de espécies peçonhentas, ou seja, que usam seus dentes para injetar o veneno nas presas.

Uma tarefa nada fácil

Até uns anos atrás os livros escolares ensinavam que, para uma serpente ser peçonhenta, bastaria que ela tivesse cabeça triangular, pupila vertical e uma cauda que afina bruscamente. “Isso não funciona aqui no Brasil, onde são conhecidas quase 400 espécies diferentes de serpentes”, afirma Henrique. “Talvez essa ideia tenha vindo de Portugal, pois lá há apenas dez espécies de cobras, das quais só duas são peçonhentas e possuem exatamente essas características descritas acima, que as diferenciam das outras serpentes daquele país”.

É muito difícil diferenciar uma coral-verdadeira de uma falsa-coral. Não é possível fazer isso observando o padrão de cores. Até os especialistas se confundem de vez em quando! Veja <i>Erythrolamprus aesculapii</i> (à esquerda) e <i>Oxyrhopus guibei</i>, espécies não peçonhentas que imitam muito bem as corais-verdadeiras. (fotos: Henrique Caldeira Costa)

É muito difícil diferenciar uma coral-verdadeira de uma falsa-coral. Não é possível fazer isso observando o padrão de cores. Até os especialistas se confundem de vez em quando! Veja Erythrolamprus aesculapii (à esquerda) e Oxyrhopus guibei, espécies não peçonhentas que imitam muito bem as corais-verdadeiras. (fotos: Henrique Caldeira Costa)

Como a riqueza de espécies de serpentes do Brasil é muito maior, identificar uma serpente peçonhenta aqui dá um pouco mais de trabalho e requer cuidado, até mesmo porque algumas cobras não-peçonhentas imitam o padrão de cor e até o comportamento de espécies peçonhentas. Por isso, Henrique sempre recomenda que, em caso de encontro com uma serpente, é melhor deixá-la onde está – se isso acontecer na cidade, ligue para o corpo de bombeiros ou para a polícia ambiental para retirarem o animal.

Tipos de serpentes peçonhentas

Algumas espécies de serpentes possuem, atrás dos olhos, pequenas bolsas onde o veneno fica alojado. Para liberá-lo, elas contam com um canal ligado a dentes especiais, por onde o veneno passa. A cobra-cipó Philodras olfersii, por exemplo, tem um dente inoculador localizado no fundo da boca – esse dente é maior que os demais e possui um sulco por onde o veneno escorre.

Mas as principais serpentes peçonhentas do Brasil apresentam o dente na frente da boca: pequeno e com sulco por onde escorre o veneno, como as corais-verdadeiras; ou grande e oco como um canudo, como no caso das serpentes conhecidas como víboras.

As jararacas, que fazem parte do grupo das víboras, possuem uma fosseta loreal em cada lado da cabeça, entre os olhos e as narinas. (foto: Henrique Caldeira Costa)

As jararacas, que fazem parte do grupo das víboras, possuem uma fosseta loreal em cada lado da cabeça, entre os olhos e as narinas. (foto: Henrique Caldeira Costa)

Segundo Henrique, existem, no Brasil, cerca de 30 espécies diferentes de víboras. “Todas apresentam uma característica que facilita sua identificação: a fosseta loreal, um órgão especial que fica entre o olho e a narina e que ajuda a serpente a detectar variações muito pequenas de temperatura”, explica. A cascavel, a surucucu – também conhecida como pico-de-jaca – e as jararacas (jararaca, jararacuçu, urutu, cotiara, caiçaca, dentre outras) são serpentes desse grupo.

Resumindo, diferenciar, pelo olhar, uma serpente peçonhenta de uma não peçonhenta pode ser muito complicado. “Entre as espécies brasileiras, apenas as víboras são mais fáceis de identificar – se tem fosseta loreal, é uma víbora, portanto, é peçonhenta”, diz o biólogo. Mesmo assim, as pessoas jamais devem se aproximar de uma serpente para ver se ela tem uma fosseta loreal ou não. Isso pode ser perigoso!

Matéria publicada em 03.11.2015

COMENTÁRIOS

  • Anna Elise

    Eu nunca vi uma cobra e espero nunca ver em toda a minha vida!

    Publicado em 22 de dezembro de 2018 Responder

    • aurora 8

      eu tambem

      Publicado em 3 de agosto de 2020 Responder

  • aurora 8

    amei as cobras sao muito bonitas quer disser as veses nao

    Publicado em 3 de agosto de 2020 Responder

  • Ryan marreiro dos santos

    Olá chc,meu nome é Ryan, eu estudo no colégio estadual Marechal Floriano, em São Paulo.
    Li a matéria que vocês publicaram sobre pesonhentas e venenosa, a parte que eu mais gostei foi “cobras-tigres-asiaticas de em uma ilha sem sapos não tem toxinas ”
    Eu gostaria de parabenizar vocês pela matéria, pois está bem completa. Sempre que tiver novidades sobre o assunto publiquem no site,
    Até mais !
    Ryan Marreiro dos santos,11 anos,estudante,São Paulo

    Publicado em 5 de agosto de 2020 Responder

  • Sofia

    Me deu até medo quando vi essa última imagem! kkkk

    Publicado em 3 de março de 2021 Responder

  • Silvia Murta Peixoto

    Eu não sabia disso

    Publicado em 27 de junho de 2023 Responder

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Sou o mascote da CHC. Troquei a pré-história pelo mundo virtual para mostrar a você o lado curioso e divertido da ciência.

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