Imagine peixes-palhaços viajantes – se você já assistiu à animação Procurando Nemo, fica fácil pensar neste cenário. Mas, se na ficção é um pai que sai pelo mundo à procura de seu filho perdido, na natureza as coisas são diferentes: uma recente pesquisa comprovou que esses peixes viajam sim, mas são os filhotes que, ainda muito novinhos, na forma de larvas, percorrem grandes distâncias à procura de um novo lar.
A pesquisa, realizada em Omã, país localizado no Oriente Médio, estudou duas populações de uma mesma espécie de peixe-palhaço que habitam dois recifes separados por 400 quilômetros de distância.
“Coletamos amostras de DNA de quase 400 animais e descobrimos que, apesar de se tratarem da mesma espécie, as duas populações tinham algumas características genéticas capazes de diferenciar os habitantes do recife Sul e habitantes do recife Norte, como se tivessem sotaques diferentes”, conta Hugo Harrison, biólogo marinho da Universidade James Cook, da Austrália, e um dos participantes da pesquisa.
Os cientistas também observaram, no entanto, alguns peixes com características do recife Norte no recife Sul e vice-versa. “Ou seja, os dois recifes estavam conectados de alguma forma, pois alguns peixes estavam migrando de um lado a outro”, alega Hugo.
Estratégia de viagem
Os pesquisadores acreditam que algumas larvas decidem fazer essa grande viagem, enquanto a maioria permanece no habitat em que nasceu. Apesar de parecer um ato de coragem, a estratégia de viajar até outro recife é muito natural.
“Esse procedimento ajuda a evitar uma superpopulação dos peixes e também a endogamia, quando os sucessivos acasalamentos entre parentes acaba por enfraquecer os descendentes”, esclarece o biólogo marinho Steve Simpson, da Universidade Exeter, Inglaterra, que também participou do estudo. “E, além disso, a estratégia permite colonizar novos habitats”.
Essas larvas viajantes medem cerca de dois milímetros de comprimento e se deslocam impulsionadas pelas correntes oceânicas, assim como acontece no filme – porém, na vida real, o percurso é solitário, já que não contam com a ajuda de tartarugas ou outros animais amigos.
“Elas permanecem larvas durante todo o trajeto e só atingem a forma adulta da espécie quando chegam à segurança de uma anêmona”, explica Hugo. “A descoberta nos ajuda a entender melhor essas populações marinhas e a perceber que elas não são tão separadas como se pensava”. Uma viagem e tanto!