A vacinação obrigatória foi a gota d’água para uma grande confusão. Na mesma época em que ela foi estabelecida, o engenheiro e então prefeito Pereira Passos comandava uma reforma urbana que ficou conhecida como “bota-abaixo”, porque expulsava muitos moradores de suas casas. Os nervos já estavam à flor da pele. Os altos custos de vida e os baixos salários preparavam o terreno para uma rebelião. E não foi para menos: era a Revolta da Vacina.
Por mais de uma semana, nas ruas do Rio de Janeiro, a população fazia passeatas, comícios, saques, e depredava bondes e carroças. Vários políticos e militares de oposição aproveitaram para tentar tirar o presidente do cargo. Não conseguiram. No dia 16 de novembro de 1904, com 23 mortos, dezenas de feridos e quase mil prisioneiros, o presidente retomou as rédeas da situação.
Oswaldo Cruz continuou no governo, mas foi derrotado em seus planos: a vacina deixou de ser obrigatória. A varíola se espalhava cada vez mais e, em 1908, uma violenta epidemia assustou a todos. Depois de quase 10 mil casos diagnosticados, a população correu aos postos de vacinação. A novidade trazida pelo sanitarista passou a ser disputada e seu trabalho pela saúde pública, finalmente reconhecido.
No ano seguinte, Oswaldo deixou o governo para se concentrar na direção do Instituto Soroterápico, que passou a carregar seu nome. Lá, adotou um modelo inovador: apostou em pesquisa, produção de medicamentos, educação e saúde. Sempre preocupado com as doenças que se espalhavam pelo Brasil, abriu espaço para novas experiências científicas e para os jovens estudantes de medicina. Passou a organizar expedições pelo interior do país para ver de perto as condições de saúde e higiene em que vivia a população.
Já com grande prestígio, foi convidado, em 1911, a fazer parte da Academia Brasileira de Letras (ABL). Mas era chegada a vez do seu corpo lhe pedir atenção. Uma doença grave tirava-lhe a força e, aos quarenta anos, já era um homem debilitado e envelhecido. Acompanhado por sua tribo — como costumava chamar a mulher e os seis filhos — foi morar na tranqüila cidade de Petrópolis.
Mesmo levado pelo descanso, o sanitarista não conseguia ficar parado. Foi chamado para o cargo de prefeito e, em 1916, já tinha traçado um plano de urbanização que incluía, além de saneamento básico, novas escolas e canteiros de rosa espalhados pela cidade. Infelizmente, não chegou a ver implantado o projeto que imaginara. Na manhã de 11 de fevereiro de 1917, Oswaldo Cruz morreu cego, sofrendo de insuficiência renal, com apenas 44 anos de idade.
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