Hoje, se uma nova vacina é criada e o governo aconselha a população a tomá-la, ninguém fica indignado. A maioria das pessoas até corre para os postos de saúde com o intuito de se livrar logo da ameaça de pegar uma doença. Mas, há exatos 100 anos, uma lei que obrigava as pessoas a tomar uma vacina causou o maior rebuliço na cidade do Rio de Janeiro: foi a Revolta da Vacina, uma verdadeira rebelião que tomou conta das ruas.
Quem teve a idéia de obrigar toda a população da cidade do Rio de Janeiro a se vacinar contra a varíola foi o médico Oswaldo Cruz , então Diretor de Saúde Pública ‐ cargo equivalente, hoje, ao de Ministro da Saúde. Havia sempre surtos da doença na cidade e, por isso, a sugestão de Oswaldo Cruz virou lei, aprovada pelo governo federal em 31 de agosto de 1904.
A vacinação era feita pela brigada sanitária, que era uma comissão de empregados da área de saúde preparados para executar esse serviço. Eles entravam na casa das pessoas e vacinavam todos que lá estivessem, uma forma de agir que indignou a população. Os jornais criticavam a nova lei e cada vez mais incentivavam as pessoas a tomar alguma providência contra ela. Como a maioria da população não tinha acesso à educação e muitos nem sabiam ler, a imprensa usava charges e caricaturas ‐ ilustrações engraçadas ‐ para traduzir o que queria dizer. Oswaldo Cruz virou o alvo de muitos desses desenhos.
Então, no dia 10 de novembro de 1904, por causa da obrigatoriedade da vacinação ‐ e também porque muitas pessoas estavam descontentes com as obras que o governo andava fazendo na cidade ‐, militares, políticos, intelectuais e a população insatisfeita saíram às ruas para protestar. Primeiro, no centro do Rio de Janeiro. Depois, por vários bairros da cidade. A maior concentração aconteceu no bairro chamado Saúde, onde as pessoas estavam mais indignadas com a situação. A revolta durou uma semana e o saldo foi assustador para a época: 110 feridos, 945 presos, 461 deportados para o Acre e 30 pessoas mortas.
Para Carlos Fidélis, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e coordenador das comemorações do centenário da Revolta da Vacina, a manifestação foi um exemplo de cidadania, já que a população deixou clara sua insatisfação com o governo. A cidade, no entanto, estava uma bagunça e, então, foi decretado que o Rio de Janeiro estava em estado de sítio, o que significa que passava por um período de grave perturbação da ordem.
Nessa situação, algumas leis podem ser anuladas para que a paz volte. Como resultado, a lei da vacinação obrigatória foi suspensa e as pessoas, aos poucos, acalmaram-se. No final das contas, a lição que ficou foi que Oswaldo Cruz não estava inteiramente errado: a vacinação era necessária ‐ a maneira com que foi feita é que chocou a população. Prova disso é que, pouco tempo depois, de 1907 a 1908, nova epidemia de varíola aconteceu e as pessoas seguiram de livre e espontânea vontade para os postos de vacinação. Afinal, as vacinas são grandes aliadas da nossa saúde!
Para marcar o centenário da Revolta da Vacina, a Fundação Oswaldo Cruz preparou uma exposição. A mostra traz cartazes ilustrados com informações sobre a rebelião popular, microscópios que podem ser utilizados pelos visitantes, mostruários com frascos de vacinas, o aparelho utilizado para a vacinação contra a varíola e uma réplica do mosquito causador da dengue, com mais de 2 metros de altura. Há ainda um laboratório instalado para quem quiser observar passo a passo como se prepara uma vacina.
Exposição 100 anos da Revolta da Vacina: cidadania, ciência e saúde.
De terça a domingo, das 12h às 19h. Até 16 de Janeiro de 2005. Grátis!
Centro Cultural Correios – Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro, Rio de Janeiro/RJ.