A lição das fábulas

“Numa floresta distante havia uma raposa com bastante fome. Ao ver umas uvas, tentou pegá-las, mas não conseguia pois estavam no alto de uma grande árvore. Ela desiste da fruta pois diz que ainda estava muito verde. Moral da história: quem desdenha (ou seja, quem despreza com orgulho) quer comprar.” Este trecho da obra “A raposa e as uvas”, de La Fontaine, e é um exemplo de fábula, uma história imaginária na qual os personagens são animais com defeitos, manias e virtudes dos seres humanos. Na maioria das vezes, ela traz uma lição de moral no final.

Ilustração de François Chauveau para a fábula "O lobo e a cegonha", publicada na edição original das Fábulas

A palavra fábula é latina, e vem do verbo fabulare , que significa conversar, narrar. É dela que vem o verbo português “falar”. O primeiro dos fabulistas foi Esopo. Ele nasceu na Grécia Antiga e teve alguns seguidores, como o romano Fedro, que escreveu “A rã e os bois” e “O lobo e o cordeiro”, entre outros contos.

No século 17, as fábulas ganham um sentido mais moderno com La Fontaine. Participante da corte francesa, ele criticava a sociedade por meio de suas fábulas. Em sua obra-prima Fábulas ele mostra a vaidade e estupidez das pessoas atribuindo tais características aos animais. Reunidas em doze livros publicados entre 1668 e 1694, as fábulas tinham elementos como comédia e drama.

Inspirado em Esopo, La Fontaine reinventou essas histórias, tornou-as mais atuais e, com isso, ganhou enorme popularidade. Mas ele também criou suas próprias fábulas, como a famosa “A cigarra e a formiga“. Uma das maiores características de seu modo de escrever eram as rimas, o que facilita a memorização das histórias pelas crianças.

La Fontaine é o autor da conhecidíssima fábula "A cigarra e a formiga"

A frase que La Fontaine mais dizia era: “sirvo-me de animais para instruir os homens.” Ao ler suas fábulas podemos tirar algumas conclusões e descobrir o que cada animal representa na verdade. Em “A cigarra e a formiga” o autor coloca o trabalho, o esforço pessoal em contraposição à descontração e à preguiça.

Na história “A águia e a coruja”, a coruja diz à ave que seus filhotes são de uma beleza incomparável, perfeitos. Ao encontrar um ninho cheio deles, a águia não pensa duas vezes e come os filhotes porque os acha feios e não imagina que são da sua amiga coruja. Dessa história tiramos o provérbio “quem ama o feio, bonito lhe parece”. Também é dessa fábula que vêm os termos “pai coruja” e “mãe coruja” para se referir àqueles que não vêem defeitos nos filhos.

Já em “A galinha dos ovos de ouro” tiramos a expressão “quem tudo quer, tudo perde”. Um homem tinha uma galinha que, a cada dia, colocava um ovo de ouro. Ele era muito ambicioso e, encantado com sua galinha, decide matá-la pois achava que ia encontrar um rico tesouro dentro do animal. Mas ele não acha nada, e fica sem a galinha.