A História do Brasil vista das margens de um rio

Se pudéssemos pegar emprestados os olhos dos primeiros portugueses que chegaram ao Brasil, em 1500, seria possível enxergar o território em que vivemos hoje de forma muito diferente. Cidades estradas, pontes, casas, edifícios, carros, caminhões: nada disso existia. Se olhássemos esse território do alto, veríamos apenas um verde exuberante, pintado pela copa das arvores, estendendo-se sem fim.

Os portugueses, quando chegaram aqui no século 16, depararam-se com um lugar selvagem, nada parecido com a Europa. Era tudo tão diferente que foi necessário que aprendessem muito com os índios que aqui viviam, para poderem desvendar os segredos destas terras.


No princípio, os rios serviam apenas como ponto de referência para que os aventureiros empenhados em meter-se mata adentro não se perdessem. Os vilarejos eram construídos sempre perto de algum rio ou córrego. Dessa maneira haveria água suficiente para se banhar, matar a sede e cozinhar.

A água também servia para fazer funcionar engenhocas como o moinho e o monjolo. Movidas pela força física das águas, elas eram usadas para moer a mandioca, o milho e outros alimentos. Além disso, nas margens dos rios também é mais comum encontrar animais para caçar e grande fartura de peixes, o que completava a alimentação daquelas pessoas.

Pelas margens dos rios passou muito ouro
Os bandeirantes foram homens que, entre os séculos 16 e 17, se embrenharam pelo interior do país. Muito corajosos, eles não temiam desvendar os mistérios de outras matas, diferentes em tudo de sua terra natal. Apesar de haver inúmeros perigos no caminho, eles vagavam durante muitos meses em busca de novas descobertas. Passado algum tempo, entre o final do século 17 e o início do século 18, eles descobriram a existência de muito ouro e pedras preciosas em lugares como Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.

A partir daí, os rios passaram a servir como um importante meio de transporte de mercadorias, uma vez que era muito difícil construir estradas naquela época. Eram usadas canoas feitas com enormes troncos de árvores, exatamente iguais às dos índios. Elas levavam comida e materiais para serem usados nas minas de ouro, além de carregar todo o metal precioso para o litoral, para que fosse vendido no continente europeu. Essas viagens pelos rios ficaram conhecidas como monções.

A extração de ouro e de pedras preciosas durou muitos anos. Terminou apenas quando praticamente não existiam mais minérios para serem retirados da terra. Durante esse período, os rios funcionavam como grandes estradas, que ligavam as regiões mais remotas às principais cidades. Ao longo desses rios, foram construídos pequenos sítios para que os viajantes pudessem descansar e conseguir mais mantimentos. Esses lugares, com o tempo, se tornariam vilas e depois cidades. Muitas existem até hoje.

Não pensem, no entanto, que essas viagens eram fáceis. Para se ir de Cuiabá, no Mato Grosso, até São Paulo, por exemplo, eram necessários meses subindo os rios. Nos trechos mais difíceis, como nos casos de corredeiras ou de uma cachoeira que aparecesse no meio do caminho, era preciso sair das canoas, descarregá-las e levá-las nas costas até outro trecho de melhor navegação. Imagine fazer isso dezenas de vezes, carregando cargas pesadas como ouro, armas e comida!


Após o ciclo do ouro, cada região do Brasil passou a cultivar e comercializar o produto que melhor se adaptava ao território. Dessa forma, no século 19, ao Norte do país, na região amazônica, passou-se a extrair a borracha da seringueira, encontrada em abundância na selva. Já na região Nordeste, desde o século 16 se plantava cana-de-açúcar, com o objetivo de vender o açúcar extraído a outros países. No Sudeste, plantava-se café para exportação. Na região Sul, a principal atividade era a pecuária: o gado era criado para ser vendido para as demais regiões.

Essas atividades dependiam diretamente das águas dos rios para irrigar as plantações, saciar a sede dos animais, transportar pessoas e mercadorias, acionar moinhos etc. A água que sempre nos beneficiou passou a ser um recurso indispensável para a economia das diferentes regiões do Brasil.

A força dos rios ilumina as cidades
Ao longo do século 19, o homem construiu algumas engenhocas que iriam mudar o modo de vida das pessoas para sempre. Primeiramente, foi descoberto como produzir energia elétrica, depois como usar essa energia para fazer luz. Daí em diante, a força dos rios passou a ser usada para produzir energia hidrelétrica e cidades inteiras se iluminaram no final daquele período.

No começo do século 20, as grandes cidades como conhecemos hoje começaram a se formar. Para funcionar bem, além de luz, elas precisavam de bondes elétricos para facilitar o transporte das pessoas. E não eram somente as pessoas que precisavam de energia elétrica: as indústrias que começavam a surgir, para fabricar produtos que usamos no dia-a-dia, também utilizam a energia hidrelétrica. A água passa a ser um recurso indispensável para que a civilização moderna que estava nascendo funcionasse.

Foi aí que as coisas começaram a complicar. As cidades por todo o país começaram a crescer e, sobretudo após 1930, muitas pessoas que moravam no campo foram para os centros urbanos. Esse fenômeno aconteceu, a princípio, na região Sudeste, principalmente onde fica a cidade de São Paulo, porque ali se concentrou a maior parte das indústrias naquele período. A aglomeração de habitantes das cidades consome grandes quantidades de água e produz toneladas de esgoto. Adivinha para onde vai toda essa sujeira? Infelizmente, acertou quem disse rios e mares…


Na primeira metade do século 20, começou a se pensar em saneamento básico para as cidades, isto é, num plano para levar toda água suja por meio de canos para um lugar onde ela pudesse ser tratada. Porém, as cidades foram crescendo tão rapidamente que até hoje não conseguimos tratar essa água para ficar limpa, antes de voltar para os rios.

Como se isso não bastasse, ficamos dependentes de energia elétrica. Nossas ruas e casas são iluminadas, os aparelhos domésticos são movidos a eletricidade. Para suprir toda essa demanda, foram construídas centenas de usinas de energia hidrelétrica ao longo do século 20. Mas isso tem seu custo: pois para construir usinas precisamos mudar o curso dos rios e edificar grandes barragens para movimentar a turbina que gera energia.

Para cada mudança uma nova atitude
O Brasil possui 12% da água potável do mundo, mas ela não está espalhada igualmente pelo território. Enquanto em algumas regiões as pessoas sentem sede, por não haver nem mesmo o que beber, em outros lugares nunca foi dada a devida importância para o desperdício de água.

Foi mais ou menos em 1970 que algumas pessoas de várias partes do mundo começaram a questionar o modo de vida que levamos: passaram perceber muitas coisas que não pareciam estar certas. É o caso dos ecologistas. Esse grupo percebeu que a natureza não suportaria tamanho abuso.

No Brasil, eles tiveram uma grande influência nos anos 1980, lutando contra a destruição do meio ambiente. Muitas batalhas pela preservação da natureza foram perdidas. Mas em 1988, aconteceu uma grande vitória: a nova Constituição aprovou leis que protegiam a fauna a flora e as águas.

O que nos resta é ter consciência de que toda a degradação dos rios foi conseqüência do modo de agirmos ao longo dos anos. O que precisamos, imediatamente, é mudar alguns costumes, ter mais respeito pelos rios. Pois onde já houve fartura, hoje a fonte começa a secar. Que isso sirva de alerta para nós!