A caminho de casa

O astronauta brasileiro Marcos César Pontes está de volta à Terra: às 20h47 (horário de Brasília) de sábado, 8 de abril, a nave russa Soyuz TMA-7 pousou no Cazaquistão, um país da Ásia. A viagem de retorno ao nosso planeta foi mais rápida do que a ida à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês): durou por volta de três horas e meia. Mas, se por um lado os astronautas a bordo da Soyuz TMA-7 ganharam tempo, por outro, perderam conforto: o sofrimento físico é maior no retorno à Terra do que na ida à ISS. Os riscos da viagem também.

Na ida até a ISS, o corpo dos astronautas sofre uma forte aceleração. Essa aceleração é cerca de quatro vezes maior do que a da Terra. “Isso significa, na prática, que uma pessoa com cerca de 70 quilos, ao viajar até a Estação Espacial Internacional, terá a sensação de ter 280 quilos”, conta Irajá Newton Bandeira, do Laboratório Associado de Sensores e Materiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O retorno à Terra passo a passo: A Soyuz TMA-7 se desacopla da Estação Espacial Internacional (1) e inicia seu retorno à Terra (2). Apenas uma das três partes que compõem a nave chega ao planeta: o módulo de descida (imagens: Nasa).

No retorno a Terra, por outro lado, os astronautas são submetidos a uma forte desaceleração, cerca de sete a oito vezes maior do que a aceleração da Terra. Para você ter uma idéia do que isso significa, basta dizer que o mesmo astronauta de 70 quilos que, na ida, sentiu-se com 280, agora se verá com aproximadamente 490. “Por isso é que a bordo de naves espaciais se viaja meio deitado: para suportar todo esse impacto sobre o corpo”, explica Irajá. “Também é por essa razão que há casos de astronautas que chegaram desmaiados à Terra, depois de viajarem a bordo de naves Soyuz. A desaceleração provoca uma diminuição no fluxo de sangue para o cérebro que leva ao desmaio.”

A viagem de retorno ao nosso planeta, além de desconfortável, é também mais arriscada do que a que leva os astronautas até a ISS. Isso porque a Soyuz TMA-7 vem do espaço, um ambiente onde não há ar. Para aterrissar na Terra, ela tem de atravessar a atmosfera do nosso planeta, ou seja, a camada de ar que o envolve. Para um pouso seguro, a nave espacial precisa entrar na atmosfera terrestre com um determinado ângulo. Do contrário, sua segurança pode ser comprometida. Para termos de comparação, seria como uma pessoa que mergulha em uma piscina: dependendo do ângulo que ela forme com a água na hora do salto, o resultado pode ser um magnífico mergulho ou uma barrigada, com tudo de ruim que isso pode trazer!

O retorno à Terra passo a passo: Quando o módulo de descida da Soyuz TMA-7 está a algumas dezenas de metros da superfície terrestre, pará-quedas são acionados para freá-lo (4), sendo que o principal tem mil metros quadrados. A poucos metros do chão, foguetes localizados embaixo da Soyuz TMA-7 são acionados (5), para amortecer o pouso (imagens: Nasa).

“Se a nave reentrar a atmosfera num ângulo muito raso, pode bater na camada de ar e voltar, como se a atmosfera fosse uma cama elástica. A Soyuz TMA-7 também não pode entrar na atmosfera de forma muito perpendicular (vertical), pois, nesse caso, sua velocidade seria muito alta”, explica Irajá. “Quanto maior a velocidade, maior o atrito com a atmosfera e maior o calor gerado na superfície da nave, que poderia, nesse caso, até queimar. A nave deve ter um ângulo de entrada ideal, em que troque parte de sua velocidade por aquecimento de forma segura.”

Por todas essas questões, não é de estranhar que ninguém soubesse, exatamente, onde a Soyuz TMA-7 iria pousar no Cazaquistão. Havia um ponto de referência, mas a nave espacial poderia descer a até 80 quilômetros dali. O astronauta brasileiro, no entanto, chegou em segurança à Terra. O Brasil todo, com certeza, torceu para que a sua aterrissagem acontecesse da forma tranqüila.

Leia também as outras reportagens do
Diário de bordo do astronauta brasileiro!

Matéria publicada em 19.05.2010

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Mara Figueira

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