A astronomia da bandeira brasileira

“Salve lindo pendão da esperança / Salve símbolo augusto da paz…” Conhece esses versos? Eles fazem parte do Hino à Bandeira , criado por Olavo Bilac e Francisco Braga em homenagem ao símbolo de nosso país. Em nosso calendário, o dia da bandeira é comemorado em 19 de novembro. A data foi escolhida com base no surgimento do nosso atual estandarte: ele foi criado em 19 de novembro de 1889, apenas quatro dias após a proclamação da república.

Agora tente lembrar como é nossa bandeira: nela, vemos as cores verde, amarela, azul, vemos até estrelas… opa! Pois é: a bandeira brasileira tem forte influência da astronomia, ou seja, da ciência que estuda a constituição, posição e movimento dos astros. O círculo estrelado que vemos é, na verdade, uma esfera celeste que representa o céu carioca do dia 15 de novembro de 1889, às 8h30, visto por um observador no infinito. Ué, mas se era manhã, o céu estava claro, iluminado pelo Sol! Como se viam as estrelas? Ora, imagine que, se pudéssemos apagar o Sol, as estrelas que surgiriam na escuridão seriam exatamente aquelas retratadas no centro de nossa bandeira!

Já o termo ’observador no infinito’ revela como a astronomia era ensinada na época. Estudava-se o céu em globos manuseáveis, em cuja superfície os astros eram pintados ou desenhados. No centro do globo estaria a Terra; assim, o estudante de astronomia estaria além das estrelas, ou seja, no infinito. Vemos o céu a partir da Terra, no centro da esfera celeste. Mas se víssemos o céu a partir do infinito — de fora da esfera, portanto –, veríamos as posições todas invertidas.

Tomemos como exemplo o Cruzeiro do Sul. As cinco estrelas mais marcantes dessa constelação — e que estão em nossa bandeira — são as quatro que formam efetivamente a cruz e uma quinta, popularmente conhecida como ’intrometida’. No céu real, visto a partir da Terra, a ’intrometida’ fica à direita da cruz (quando esta está em pé no céu). No céu da bandeira (visto a partir do infinito), fica à esquerda. Essa posição não é um erro, mas apenas uma mudança no ponto de vista do observador.

A bandeira original possuía 21 estrelas que representavam os 20 estados e a capital federal, considerada um ’município neutro’ desde 1889. À medida que novos estados foram criados, novas estrelas foram acrescentadas à bandeira, mas repare que sempre haverá mais estrelas no céu do que estados no Brasil!

(reprodução / "Aspectos astronômicos e históricos da bandeira do Brasil", por Luiz Renato Dantas Machado, Revista do Clube Naval , dez./1992).

Hoje, nossa bandeira possui 27 estrelas que representam os 26 estados do país e o Distrito Federal. A mais notável é a alfa da Virgem, — também conhecida por Spica — que representa o Estado do Pará e fica acima da faixa onde se lê ’Ordem e Progresso’. O Rio de Janeiro é representado pela estrela Becrux, também chamada de Beta do Cruzeiro do Sul; o Distrito Federal aparece como a Sigma do Oitante, uma estrela que mal é vista a olho nu, mas tem a notável característica de ocupar o Pólo Sul Celeste. Todas as outras estrelas parecem girar ao seu redor!

A partir de hoje, você já sabe: no dia 19 de novembro, homenageie não só nossa bandeira, mas também o céu que a inspirou!