Odisseu e seus soldados passaram por muitos apuros no caminho de volta. Uma vez, ancoraram os barcos em uma ilha para procurar alimentos e acabaram na caverna do ciclope Polifemo, um gigante com um único olho bem no meio da cabeça. Alguns companheiros de Odisseu acabaram devorados pelo monstrengo!
As aventuras de Odisseu são contadas no poema “Odisséia”, escrito cerca de 2,8 mil anos atrás por Homero. Naquele tempo, os gregos acreditavam que os ciclopes existiram de verdade, em um passado remoto. Será?
A explicação é que de vez em quando alguém encontrava restos de esqueletos no interior de cavernas, com um crânio que possuía um grande orifício central. Para muitos, não restavam dúvidas: eram os ossos de um ciclope.
Algumas regiões ficaram famosas por conta desses esqueletos, como a ilha da Sicília, na atual Itália. Muita gente afirmava que um dos crânios encontrados por lá era do próprio Polifemo.
Mas a verdade é outra, embora, ainda assim, instigante. Os ossos encontrados em cavernas gregas e italianas não pertenciam a ciclopes, mas a… Elefantes! Hoje, esses animais são nativos da África e do sudeste da Ásia, mas até cerca de 30 mil anos atrás habitavam a Europa. Seus parentes próximos e mais peludos, os mamutes, também viveram por lá até 12 mil anos atrás.
Quando a civilização da Grécia antiga surgiu, elefantes e mamutes já tinham desaparecido da Europa há milhares de anos. Os primeiros gregos nunca tinham visto um elefante vivo, muito menos o esqueleto de um. Por conta disso, acabaram confundindo os ossos desses animais com os de um gigante.
Agora, talvez você esteja se perguntando: os elefantes que viveram na Europa eram iguais aos atuais? E por que eles desapareceram?
Atualmente existem três espécies de elefantes. Duas vivem na África e a outra ocorre na Ásia. Mas, milhares de anos atrás, a família dos elefantes era maior, agregando outras espécies que viviam na Europa e pertenciam ao gênero Palaeoloxodon, que pode ser traduzido como “elefante antigo” em grego.
Entre 780 mil a 50 mil anos atrás, o Palaeoloxodon antiquus (“antigo” em latim) viveu em algumas regiões europeias. Mas, nas ilhas próximas à costa, viviam outras espécies.
Estudos indicam que em certas épocas o nível de água dos oceanos diminuía, formando caminhos de terra do continente até as ilhas, e alguns elefantes migravam para lá. Após milhares de anos, o nível dos oceanos voltou a subir e as ilhas ficaram isoladas de novo.
Com o tempo, os elefantes ilhados acabaram se diferenciando em novas espécies, como o elefante-anão da Sicília, Palaeoloxodon falconeri. Os indivíduos desta espécie – cujo nome é uma homenagem ao paleontólogo Hugh Falconer – eram muito menores que os elefantes atuais e atingiam apenas 90 centímetros de altura. Um elefante do tamanho de um cachorro!
Infelizmente, nenhuma das espécies de elefantes da Europa sobrevive nos dias de hoje. Ao que tudo indica, elas não conseguiram se adaptar a mudanças que ocorreram com o passar do tempo no ambiente onde viviam e desapareceram para sempre.
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!