Apesar do título, este texto não vai falar sobre nenhum carro enferrujado e sujo, mas de um telescópio espacial. Há 25 anos no espaço, o Hubble tem feito imagens fantásticas dos mais longínquos cantos do universo, mas também precisa de reparos de vez em quando. Agora, se o telescópio não pode simplesmente descer para uma oficina aqui na Terra, como são feitos esses consertos? No espaço, ora!
Quando Hubble foi lançado, em abril de 1990, os engenheiros que o projetaram já sabiam que ele precisaria ser reparado e atualizado no futuro. De fato, desde que o telescópio foi colocado em órbita, 23 missões de reparo e aperfeiçoamento foram realizadas com a ajuda de astronautas que viajaram até o espaço com esta missão especial.
A cada reparo, um pouco de óleo e silicone das luvas dos astronautas ficaram na parte externa do telescópio. Essas manchas estão bem visíveis agora, após o passar do tempo e a exposição à radiação ultravioleta do Sol.
Cada uma das missões de reparo do Hubble foi bastante complexa. A primeira delas, realizada em 1993, demorou cinco dias e envolveu cinco saídas dos astronautas de sua nave. Foram usadas mais de 100 ferramentas, muitas delas desenvolvidas especialmente para este fim. Uma grande obra de engenharia e inovação!
Consertar ou não consertar? Eis a questão!
Algumas das missões foram realmente dramáticas, como a de 2002, quando as baterias do telescópio começaram armazenar menos carga do que deveriam e percebeu-se que, em alguns anos, o Hubble deixaria de funcionar. Ora, você pode pensar, basta trocar as baterias ou o sistema de carga! Mas aí estava o problema: para realizar este reparo, o telescópio precisaria ser desligado por algumas horas e sua temperatura cairia muito quando a sua órbita o levasse para o lado escuro, sem a luz solar. Se isso acontecesse, o Hubble estaria danificado permanentemente.
Os engenheiros da agência espacial norte-americana (Nasa), responsáveis pelo telescópio, enfrentaram um verdadeiro dilema. Por um lado, sem conserto, o Hubble deixaria de operar em três anos, quando a bateria acabasse de vez; por outro, durante o conserto, ele poderia parar de funcionar imediatamente. O que você decidiria, no lugar deles?
A Nasa decidiu que valia a pena arriscar. Os astronautas começaram a se preparar horas antes do necessário, mas, quase na hora de começar o trabalho, um imprevisto aconteceu: uma válvula do traje de um dos astronautas que iria executar
o reparo apresentou problemas, e ele não podia sair da nave nessas condições!
Rapidamente, os astronautas removeram o traje com defeito e improvisaram um novo com partes de outros trajes. Em menos de duas horas – tempo recorde para este tipo de procedimento –, eles puderam sair para a missão. Imagine trabalhar nesta oficina espacial, com tempo contado, circulando a Terra a mais de 27 mil quilômetros por hora! Felizmente, os astronautas conseguiram, em 6,5 horas, como previsto no treinamento, consertar o Hubble, o que garantiu seu funcionamento até hoje e, com um pouco de sorte, até além de 2020, que é a sua atual estimativa de vida útil.
Muitas outras aventuras foram necessárias para permitir que o Hubble continuasse operando e fornecendo imagens e informações. Em seu exterior, as marcas de graxa e silicone provenientes das luvas de 16 diferentes astronautas indicam não um descuido em sua manutenção, mas o oposto: uma parceria sem precedentes entre o homem e a máquina, que tem gerado bons frutos tanto para a comunidade científica como para o público em geral, que, a partir das imagens do telescópio, tem a oportunidade de conhecer mais sobre o universo!