Um minicrocodilo, uma grande descoberta

Se comparado aos seus parentes atuais, ele é pequeno. Porém, para os cientistas que estudam animais pré-históricos, saber que ele viveu há 90 milhões de anos onde hoje está o Brasil é uma grande descoberta. Sabe de quem estamos falando? Do Adamantinasuchus navae , um crocodilo terrestre muito diferente das espécies pré-históricas desse tipo de réptil descobertas até hoje. Seus fósseis foram apresentados nesta semana à imprensa. Então, que tal conhecê-lo?

A reprodução do A.navae , que demorou nove meses para ficar pronta, mostra como ele era há 90 milhões de anos. (Crédito: Deverson da Silva)

O A. navae era o que poderíamos chamar de um minicrocodilo. Ele media cerca de 50 centímetros de comprimento e pesava mais ou menos 10 quilos. Com grandes olhos, localizados na lateral de sua cabeça, esse réptil pré-histórico era capaz de enxergar melhor as presas em suas caçadas noturnas. O pequeno crocodilo também tinha os ossos das pernas bem compridos, o que lhe permitia atravessar grandes distâncias à procura de alimentos. Diferentemente dos crocodilos atuais, que vivem em ambientes alagados, ele vivia em terra firme.

A característica mais interessante do A. navae , porém, está relacionada aos seus dentes. Alguns deles eram voltados para frente e o ajudavam a capturar pequenos animais, como insetos. Já os de trás eram parecidos com os molares dos animais mamíferos, que são os que terminam a mastigação, triturando os alimentos. Por ter essa dentição diferenciada dos outros crocodilos, os pesquisadores concluíram que A. navae era onívoro, ou seja, comia de tudo, incluindo carne e vegetais, diferentemente de seus outros parentes crocodilomorfos, que eram carnívoros. “Isso tudo é para provar que nem sempre o maior é o melhor”, brinca o professor Ismar de Souza Carvalho, pesquisador do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um dos cientistas responsáveis pela descrição da espécie.

O A. navae tinha ossos alongados que o ajudavam a atravessar grandes distâncias. Assim como seus dentes (veja o detalhe), eles eram boas ferramentas na hora de capturar alimentos.

Os fósseis do A. navae foram descobertos em 1998, em rochas localizadas na cidade de Marília, em São Paulo, que são conhecidas como Formação Adamantina. Daí a origem do termo Adamantinasuchus , que batiza a espécie. O termo navae , que completa o nome do animal, por sua vez, é uma homenagem ao descobridor do réptil pré-histórico, o paleontólogo William Nava, diretor do Museu de Paleontologia de Marília. Foi Nava quem estava no local das escavações que o levaram aos fósseis do animal. “Hoje, porém, o lugar onde fiz a descoberta foi transformado em uma represa. Com certeza, ele deve conter muitos fósseis, que agora podem estar debaixo d’água”, lamenta.

A boa notícia é que cinco exemplares do A. navae foram encontrados no local. Com os fósseis e a ajuda dos pesquisadores, uma réplica em tamanho natural do crocodilo foi confeccionada. A obra é do paleoartista Deverson da Silva, do Museu de Monte Alto, em São Paulo, um especialista em reproduzir as descobertas de animais e ambientes do passado. A reconstrução levou nove meses para ser concluída e mostra como era a espécie há 90 milhões de anos.

E, então? O que você achou desse mais novo representante da fauna pré-histórica brasileira?

A Terra há 90 milhões de anos
O Adamatinasuchus navae viveu no período Cretáceo, há noventa milhões, período em que ocorria a separação dos continentes e a abertura do Oceano Atlântico. Antes disso, uma parte da Terra formava um imenso bloco chamado Gondwana, constituído pela união da América do Sul, da África, da Índia, da Antártica e da Austrália. Com a separação, formaram-se grandes áreas de rios e lagos que surgiam e desapareciam, deixando sedimentos – material que não se dissolve na água, como areia e argila – que formaram aglomerados de rochas. Foi justamente em um aglomerado de rochas desse tipo – a Formação Adamantina – que os fósseis do A. navae foram encontrados.

Matéria publicada em 21.05.2010

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Cathia Abreu

Adoro aprender coisas novas. Tenho a sorte de trabalhar me divertindo e fazendo descobertas todos os dias.

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