Ratos arrependidos

Quando perdemos uma boa oportunidade (aquele gol perdido no futebol, por exemplo) ou fazemos algo errado (sendo grosseiro com um amigo, quem sabe?), quase sempre desejamos poder voltar no tempo para corrigir o erro. Essa emoção, o arrependimento, você já deve ter experimentado. Mas sabia que ela não é uma exclusiva de humanos? Isso mesmo: segundo uma pesquisa norte-americana, os ratos também são capazes de se arrepender.

Uma pesquisa comprovou que não só os seres humanos se sentem arrependidos, mas os ratos também. (foto: Sarah Laval / Flickr / <a href=http://creativecommons.org/licenses/by/2.0/br/>CC BY 2.0</a>)

Uma pesquisa comprovou que não só os seres humanos se sentem arrependidos, mas os ratos também. (foto: Sarah Laval / Flickr / CC BY 2.0)

David Redish, neurocientista e um dos coordenadores do estudo na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, explica que, para estudar a capacidade de arrependimento dos roedores, foi preciso dar a eles a oportunidade de tomar decisões. “No caso de escolhas erradas, poderíamos observar se eles demonstrariam sinais de arrependimento”, explica David.

A experiência foi chamada de fila de restaurante, em que quatro lugares estavam disponíveis para os animais pegarem comida, como se fossem quatro tipos de restaurantes diferentes. “Os ratos vão de um lugar a outro em ordem e a cada ambiente que entravam, eles ouviam um som”, conta David. “Eles foram treinados para identificar esses sons: se fosse alto, sabiam que teriam de esperar um longo tempo pela comida. Se fosse baixo, a espera seria menor.”

O que eu mais gosto é…

Durante um mês, os ratos passaram inúmeras vezes pelo circuito e os pesquisadores identificaram as refeições favoritas de cada um. “De forma geral, o tempo que o rato espera significa o quanto gosta daquela refeição: por exemplo, se esperar mais por uma cereja do que por uma banana, é por que gosta mais da cereja”, diz o neurocientista.

Às vezes, para induzir o arrependimento, os pesquisadores deixavam o rato esperando muito tempo pela sua refeição favorita, até que desistisse e seguisse para o próximo restaurante – onde o era obrigado a esperar por um tempo ainda maior!

Os ratos foram submetidos a um experimento semelhante à espera numa fila de restaurante, onde poderiam escolher aguardar por alguma refeição ou seguir para a próxima. (foto: David Redish / Universidade de Minnesota)

Os ratos foram submetidos a um experimento semelhante à espera numa fila de restaurante, onde poderiam escolher aguardar por alguma refeição ou seguir para a próxima. (foto: David Redish / Universidade de Minnesota)

Para entender melhor, imagine que você tem uma hora para almoçar e dois restaurantes a sua disposição: um chinês e um indiano. Você vai para o chinês porque é seu favorito, mas a fila está gigante. Então, você desiste dele e segue para o indiano, do qual você não gosta tanto, mas que pode ser mais rápido. Ao chegar lá, porém, surpresa: a fila está ainda maior e você se arrepende imediatamente de ter desistido de esperar no restaurante chinês.

De acordo com David, nessas situações os ratos tinham comportamentos claros de arrependimento, ficavam olhando para trás, onde estava a refeição perdida. Para confirmar se a sensação era realmente essa, ele conta que também fez exames capazes de ler a mente dos animais.

“Algumas células do cérebro do rato ‘acendem’ quando ele pega cerejas, enquanto outras células se ‘acendem’ quando ele pega bananas”, explica. ”Então, por exemplo, quando o animal que gosta de cerejas está esperando  para pegar a banana, após ter desistido de seu alimento preferido, começam a acender em seu cérebro células normalmente ativadas quando ele come as cerejas – ou seja, ele está pensando na deliciosa refeição perdida!”

Matéria publicada em 18.09.2014

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Isabelle Carvalho

Desde criança, sempre gostei de ler e escrever histórias. Hoje, estou muito feliz por poder contar muitas histórias sobre ciência na CHC!

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