Como um baú cheio de tesouros

Tente imaginar um lugar que abrigue metade das aves brasileiras e 40 de cada 100 mamíferos do país, além de muitos outros animais e de quase sete mil espécies de plantas. Como você acha que deve ser esse espaço? Para começar, deve ser enorme, não é? Também precisa ter clima favorável e água para todos, concorda?

Rio Formoso, situado no Parque Nacional das Emas (GO) (foto: Haroldo Castro / Conservação Internacional)

Pois bem. Esse lugar existe e é ocupado pelo que chamamos de cerrado. Ele contém nada menos que um terço da biodiversidade do nosso país, ou seja, de cada 100 espécies de seres vivos brasileiros, cerca de 33 vivem por lá. O cerrado é considerado o segundo maior bioma do Brasil, isto é, o segundo maior conjunto de espécies animais e vegetais que vivem em uma mesma área, atrás apenas da Amazônia.

O cerrado é um tipo de savana — vegetação que ocorre em lugares que sofrem períodos de seca — e ocupa boa parte do território brasileiro. Só para você ter uma idéia, caso o Brasil fosse dividido em cem partes iguais, esse bioma preencheria vinte e uma delas. A área central do cerrado está concentrada nos estados do Piauí, Maranhão, Tocantins, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, mas ele chega também a Rondônia, Amazonas, Roraima e Amapá.

Localizado sobre o Planalto Central, o cerrado brasileiro estende-se por um terreno plano, com algumas depressões e vales onde nascem importantes rios do país, como o São Francisco e o Tocantins. Ele tem períodos de seca e chuva bem definidos e, apesar de não ser rico em nutrientes, seu solo pode ser adaptado com facilidade à agricultura.

Mas a marca registrada desse bioma é mesmo a variedade de espécies animais e vegetais. São bichos e plantas tão distintos que, passeando pelo cerrado, podemos ficar surpresos com as diferentes paisagens que encontramos. Quer um exemplo? Ao longo dos cursos d’água, nascem árvores como o jatobá e o jacarandá, que formam as ‘matas de galeria’.

Chapadas são formações rochosas elevadas que possuem uma porção bem plana na parte superior. A da foto fica na região do Jalapão, em Tocantins. (foto: Mário Barroso/Conservação Internacional)

Já no topo das chapadas ou próximo a campos úmidos, onde o solo não é muito profundo, a vegetação é bem diferente, com espécies como o capim-flecha e o capim-rabo-de-burro. São dois ecossitemas diferentes num mesmo bioma! E mais: além desses, existem muitos outros ecossistemas no cerrado, como os campos rupestres e as matas secas.

Ecossistema
Animais e plantas organizam-se em grupos nos quais cada um assume um papel, seja o de predador ou o de alimento para outra espécie. Cada um desses grupos recebe o nome de ecossistema.

Com tanta variedade, logo surgiram utilidades para as plantas do cerrado: o buriti fornece fibras para a fabricação de tecidos, o babaçu é uma fonte de óleo, a arnica e a catuaba são usadas na medicina, os bambus são aproveitados para o artesanato… Tem até uma raiz, chamada arcassu, que, misturada ao leite, fica com aroma e gosto semelhantes ao do chocolate!

Além disso, alguns alimentos que estamos acostumados a ver nas feiras e supermercados são originais do cerrado. Caju, mandioca, abacaxi, pinha e amendoim são alguns exemplos. Pena que um lugar tão rico esteja também muito ameaçado…

Leia mais: Gol contra a natureza |Riqueza ameaçada 

 

 

 

Matéria publicada em 21.09.2004

COMENTÁRIOS

  • Anna Elise

    Tomara que não haja mais extinção!

    Publicado em 14 de abril de 2019 Responder

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Catarina Chagas

Desde criança gosto de ler, inventar histórias e descobrir novidades. Cresci e encontrei um trabalho em que posso fazer tudo isso.

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