Imagine um deserto quase vazio, longe do oceano e bem no interior do continente. Difícil pensar em alguma forma de vida num lugar assim, não é? Pois saiba que, há 80 milhões de anos, esse era o cenário da região de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, onde uma equipe de pesquisadores acaba de encontrar uma nova espécie de pterossauro, batizado de Caiuajara dobruskii.
Os fósseis foram descobertos em 1971 pelos agricultores Alexandre Dobruski e João Gustavo Dobruski e descritos recentemente por cientistas do Centro de Paleontologia (Cenpaleo) da Universidade do Contestado, em Santa Catarina, e do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que coletaram mais de 50 crânios de pterossauros. Essa foi a maior aglomeração do animal já encontrada e indica que ali vivia uma grande comunidade desse pterossauro.
A descoberta foi uma grande surpresa, já que esses répteis voadores são comumente encontrados em áreas próximas da costa. Aqui no Brasil, só haviam sido achados na Chapada do Araripe, no Ceará. “Acreditamos que nesse deserto, os pterossauros habitavam um oásis (uma área isolada de vegetação)”, explica o geólogo do Cenpaleo e um dos autores da pesquisa Paulo Manzig.
Segundo ele, o fato de terem encontrado uma nova espécie de pterossauro não é a parte mais importante do estudo. “Novas espécies são descobertas frequentemente, mas nunca haviam achado um sítio com fósseis de animais desde os mais jovens até os mais adultos”, conta. “Isso permitirá um estudo mais aprofundado sobre esses pterossauros, podendo observar suas fases de crescimento”.
Além disso, o aglomerado de fósseis indica que esses animais viviam em sociedade, mas não tinham uma vida fácil, já que, cercados por um deserto, tinham pouca comida disponível. “Eram animais sem dentes, que se alimentavam de frutas e sementes”, diz o geólogo. Paulo Manzig adiciona que os tamanhos do Caiuajara variavam de 65 centímetros até pouco mais de 2 metros.
Embora a descoberta da nova espécie já tenha sido confirmada, os pesquisadores ainda vão continuar com a mão na massa. “A região do oásis tem cerca de 400 metros quadrados e nós escavamos apenas 20”, diz Paulo Manzig. “Esperamos encontrar fósseis de outros animais pré-históricos nessas novas escavações”. O que será que eles vão descobrir?