Surpresa gelada

Se você mora em uma cidade onde faz muito calor, aposto que já pensou como seria bom morar em uma pedra de gelo. Mas isso não é tão fácil quanto parece: funções importantes como respirar e digerir alimentos, entre outras, ficam comprometidas em temperaturas tão baixas. Justamente por isso, cientistas não esperavam encontrar vida debaixo dos blocos de gelo da Antártica. Mas não é que uma espécie de anêmona escolheu esta moradia gelada para viver?

As anêmonas são animais marinhos de corpo mole que se alimentam de moluscos, pequenos peixes e crustáceos, como o camarão. Geralmente, elas vivem vagando pelos oceanos, mas a espécie recém-descoberta, que recebeu o nome de Edwardsiella andrillae, é o primeiro animal já encontrado a viver fixo no gelo.

A anêmona (i)Edwardsiella andrillae(/i) vive presa nos blocos de gelo da plataforma Ross, na Antártica. (foto cedida pela pesquisadora)

A anêmona (i)Edwardsiella andrillae(/i) vive presa nos blocos de gelo da plataforma Ross, na Antártica. (foto cedida pela pesquisadora)

Segundo a bióloga Marymegan Daly, da Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, a descoberta foi feita totalmente ao acaso. “A equipe de pesquisa estava na Antártica analisando a formação do gelo quando, ao perfurar um bloco com uma broca com câmera, se deparou com as anêmonas nas imagens”, conta. “A surpresa foi grande e, como não tínhamos equipamento específico para pegar os espécimes para análise em laboratório, improvisamos usando um filtro de café”.

As anêmonas encontradas mediam cerca de dois centímetros e boa parte de seus corpos estava dentro do gelo. Só os tentáculos ficavam para fora, movendo-se na água. Ninguém nunca tinha visto esses animais e os pesquisadores ficaram muito curiosos!

“Não sabemos como elas se fixam nos blocos de gelo, mas isso pode ter relação com a ação de toxinas que normalmente as anêmonas usam para se defender e se alimentar”, sugere Marymegan. “Elas podem usar essas substâncias para se prender no gelo”.

A pesquisadora diz que já está planejando uma nova visita ao local para coletar mais material para estudo, e acredita que o gelo da Antártica ainda está cheio de outros mistérios. “Com certeza há mais para ser descoberto, mas é muito caro e difícil ir até essa região tão gelada e coletar animais”, explica.