Choque no parquinho

Uóóóóóóóóó! Era a sirene da escola anunciando a hora do recreio. Mal o sinal acabava de soar, os alunos já ocupavam todo o pátio. Naquele dia, então, a criançada apareceu mais depressa do que nunca. É que o parquinho tinha brinquedos novos e todo mundo queria experimentar. O que ninguém podia imaginar era que aquele recreio seria assim, digamos… chocante!

Ilustrações Ana Matsusaki

Com a notícia da chegada dos novos brinquedos de plástico comprados pela escola, ninguém quis perder tempo lanchando. O espaço no parquinho estava disputadíssimo. Uns faziam fila para escorregar, outros se balançavam. Quem não fazia nem uma coisa nem outra ficava reclamando que já estava na sua vez. Um menino, que esperava na fila pacientemente por uma oportunidade de brincar, acabou se apoiando no escorrega. De repente, ele gritou: “Ai!” A professora foi logo perguntando quem era o autor do beliscão. Ninguém se acusou. Distraídas com a confusão que parecia se formar, outras crianças colocaram a mão no escorrega e foi um tal de “ai, ai, ai”, que deixou a professora encafifada. 

A primeira hipótese que lhe passou pela cabeça foi a de que as crianças estariam imitando o colega que deu o primeiro grito. Mas ela nem teve tempo de pedir para o pessoal parar com as gracinhas, porque alguém foi logo dizendo em voz alta: “Professora, o brinquedo está dando choque!”. Como era possível que aquilo estivesse acontecendo, se as crianças que estavam no escorrega não reclamavam de nada? Para ter certeza de que não se tratava de uma estratégia armada pela garotada, a professora foi verificar pessoalmente. Com um olhar muito sério, disse para a galera que estava na escada: “Desçam que eu quero ver se essa história de choque é verdade”. O pessoal começou a escorregar. 

Com eles realmente não aconteceu nada, mas quando a professora resolveu colocar a mão no escorrega, soltou um “ai” igualzinho ao dos alunos. Mais do que depressa, a coordenação da escola tratou de telefonar para o fabricante dos brinquedos para relatar o que estava acontecendo e pedir providências. O rapaz que atendeu do outro lado da linha disse que aquilo era normal e que bastava passar no brinquedo um pano umedecido com amaciante de roupas que o problema estaria resolvido. Não deu outra! Depois de passar amaciante de roupas no escorrega, ninguém mais se queixou dos choques. O problema é que o recreio já havia terminado, e muita gente voltou para aula sem o gostinho de ter aproveitado os brinquedos novos.

Diego Vaz Bevilaqua
Casa de Oswaldo Cruz
Fiocruz
(publicado originalmente na CHC 115).