O povo negro sofreu grande rejeição na história das civilizações. No Brasil, a situação não foi diferente: ao visitar a exposição Negro de Corpo e Alma, que faz parte da Mostra do Redescobrimento, percebe-se como os negros, que chegaram ao país como escravos, eram vistos como uma raça inferior. Mas eles foram muito importantes na formação do povo brasileiro. A exposição mostra isso e tenta explicar como foi e como é ser negro no Brasil, por meio das manifestações artísticas e religiosas desse povo que tanto influenciou a cultura brasileira.
Os primeiros negros chegaram ao Brasil em 1580. Vieram para servir os donos das grandes fazendas, que precisavam de muitos trabalhadores nas lavouras de cana-de-açúcar e não conseguiam escravizar os índios. Para favorecer os fazendeiros, o governo brasileiro permitiu o comércio de negros, que eram capturados na África, trazidos em grandes embarcações (os navios negreiros) e vendidos no Brasil. As viagens duravam entre três e quatro meses. Eles vinham nus e deitados nos porões do navios sobre urinas e fezes, e nem sempre havia água e comida para todos. Muitos negros não sobreviviam a essas péssimas condições de viagem.
Quando chegavam ao Brasil, os escravos eram acomodados em senzalas, trabalhavam cerca de quatorze horas por dia e, muitas vezes, tinham direito a apenas uma refeição diária composta de feijão, milho, farinha de mandioca. Por resistir à dominação dos brancos, os negros eram ainda mais maltratados – apanhavam de chicotes e amarrados a troncos. Sem esperanças de ganhar uma carta de alforria, que lhes daria a liberdade, muitos se suicidavam ou fugiam, indo para o sertão, onde se organizavam em quilombos. Os instrumentos de castigos e o dia-a-dia dos escravos nas fazendas podem ser vistos na exposição.
Quilombos: o sonho da liberdade
Ao contrário do que contam muitos livros de história, os negros não aceitaram tão facilmente a escravidão. Pelo contrário, muitos deles se rebelaram: alguns tentaram suicídio, outros assassinaram os seus senhores. No entanto, a maioria optou pela fuga das fazendas. Os escravos fugidos reuniam-se em pequenos povoados no sertão, em locais de difícil acesso, dando origem aos quilombos. Ao lado, você vê a planta de um deles: o Buraco do Tatu, na Bahia.
Cada quilombo tinha seu chefe, que era subordinado ao chefe geral: Zumbi dos Palmares, que comandava o maior povoado do país. Localizado no estado de Alagoas, o quilombo dos Palmares funcionava como um pedaço da África no Brasil, e chegou a abrigar cerca de 20 mil escravos fugidos em 1670.
Com a diminuição do número de escravos nas fazendas, a Coroa Portuguesa começou a atacar os quilombos, principalmente o de Palmares, sem sucesso, até que os portugueses resolveram usar outros métodos. Por meio de roupas pertencentes a doentes, eles espalharam no quilombo doenças contagiosas. Sem reforços, armas e alimentos, o quilombo dos Palmares foi completamente destruído. Zumbi conseguiu fugir, mas foi capturado e morto. Sua cabeça foi exposta em praça pública em 1695.
Dois séculos depois, surgiu o movimento abolicionista no Brasil, liderado por José do Patrocínio, que defendia o fim do trabalho escravo. A partir de 1850, a idéia de libertação dos escravos ganhou força, mas a escravidão só acabou no país em 1888, quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. A população negra deixou de ser dominada, mas nem por isso foi integrada e aceita pela sociedade da época. Ainda hoje, apesar de os negros terem conquistado seus direitos de cidadãos, eles continuam a ter condições de vida inferior às dos brancos. Uma prova disso é o fato de boa parte da população das favelas e dos presídios brasileiros ser composta por negros.