Pinguins espaciais

Manchas formadas pelo cocô do pinguim-imperador, vistas do espaço, ajudaram a localizar colônias da espécie na Antártica (fotos: British Antarctic Survey).

Imagine a cena: você é um cientista e precisa monitorar um animal que só fica fora d’água na época da reprodução. Nesse período, a temperatura do local onde a espécie vive chega a 50 graus abaixo de zero e os ventos sopram a 200 quilômetros por hora. E aí? Parece impossível localizar esses bichos?

Então, saiba que dificuldades assim são enfrentadas por quem pesquisa o pinguim-imperador, uma das maiores aves do planeta, que vive na Antártica. A boa notícia é que cientistas britânicos desenvolveram uma nova técnica para encontrar as colônias que esses animais formam na época da reprodução: eles usam imagens feitas por satélites que estão lá no espaço.

Pinguins-imperadores deixam as águas da Antártica para se reproduzir sobre o gelo do continente. Vídeo mostra diversos animais alimentando seus filhotes e registra os sons emitidos pela espécie (imagens: British Antarctic Survey).

Descoberta à distância

Ué, mas será que dá para ver os pinguins em uma imagem feita de tão longe? De fato, não dá para enxergar cada um dos animais. Mas a sujeira que eles fazem… Ah, essa é visível do espaço! Por meio de imagens de satélite, os cientistas conseguem ver, em partes do gelo, manchas escuras formadas pelo guano, o cocô dos pinguins. Em contraste com o gelo da Antártica, branquinho, não há como não enxergá-las. E, graças a elas, 38 colônias de pinguins-imperadores foram localizadas, sendo que dez eram desconhecidas.

Peter Fretwell, um dos cientistas responsáveis pelo estudo, conta que a ideia para criar essa técnica surgiu após manchas serem avistadas em regiões onde já se sabia que havia colônias de pinguins-imperadores. Ele explicou à CHC on-line como notou que os excrementos só poderiam ser desse animal. “O pinguim-imperador é a única espécie de ave que se reproduz no gelo”, diz.

Alerta que vem do espaço

Além de revelar dez novas colônias de pinguins-imperadores, a nova técnica mostrou que, entre as colônias da espécie já conhecidas, seis mudaram de lugar e seis não foram encontradas. Isso sugere que o pinguim-imperador talvez esteja em perigo. Tudo porque as alterações observadas podem estar ligadas ao derretimento do gelo na Antártica, que estaria comprometendo a sobrevivência do pinguim-imperador e levando o animal a se deslocar em busca de um local mais seguro para se reproduzir.

Pinguins-imperadores com seus filhotes. Os adultos dessa espécie apresentam pelos dourados no peito e na cabeça.

Peter Fretwell explica que, normalmente, o gelo marítimo derrete em dezembro ou janeiro, quando os filhotes de pinguim-imperador já estão com as penas impermeáveis, que não permitem a passagem de água e os deixam a salvo do frio. “Se o gelo derreter antes disso, por conta de mudanças de temperatura, os filhotes ainda não estarão protegidos pelas penas à prova d’água e morrerão. Portanto, o sucesso da reprodução será pequeno e a população diminuirá”, conta o cientista.

Próximos desafios

O estudo realizado por Peter Fretwell e seus parceiros é o primeiro a usar imagens espaciais para mapear os pinguins-imperadores. O resultado obtido fornece informações precisas sobre a distribuição desses animais em quase toda a costa da Antártica. Para você ter uma ideia, se a região fosse dividida em 100 pedaços, de 85 a 95 já teriam sido analisados por meio de imagens de satélite. O próximo passo, agora, é conseguir imagens das áreas que estão faltando, contar quantos pinguins-imperadores há em cada colônia e avaliar como esses animais sofrem com as mudanças climáticas causadas pelo aumento da temperatura da Terra. Fica, então, a torcida para que, do frio da Antártica, venham boas notícias em breve!

Uma ave que põe apenas um ovo
O pinguim-imperador tem um jeito curioso de se reproduzir. A fêmea coloca um único ovo, no mês de maio, e o entrega ao macho. Com cuidado, o papai pinguim o põe sobre as suas patas, que são cobertas por pele e penas, um lugar bem quentinho e aconchegante. É a hora, então, de a fêmea partir para uma viagem em direção ao mar, em busca de alimento. O problema é que ela só estará de volta em agosto e, durante todo esse tempo, o macho ficará sem comer. Ele perderá quase metade do seu peso e somente com o retorno da fêmea poderá ir se alimentar, deixando o filhote sob os cuidados da mãe.

Matéria publicada em 16.06.2009

COMENTÁRIOS

  • Anna Elise

    Os pinguins são muito fofos!

    Publicado em 11 de maio de 2019 Responder

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