Parece réptil, mas é anfíbio

“Extra, extra! Biólogo encontra animal raro!” A boa notícia vem lá do Rio Madeira, que fica em Porto Velho, Rondônia. O nome do bicho é Atretochoana eiselti, e, apesar de ser conhecido como cobra-cega, é um anfíbio parente de sapos e pererecas.

Cobra-cega

Apesar de ser conhecido como cobra-cega, a (i)Atretochoana eiselti(/i) é um anfíbio parente de sapos e pererecas (Foto: Juliano Tupan)

O achado aconteceu durante as obras de uma hidrelétrica, quando o biólogo Juliano Tupan, da empresa Santo Antônio Energia, deu de cara com um animal de corpo alongado e sem patas. “Fiquei surpreso com o que vi. Quando fui consultar outros pesquisadores, descobri que havia encontrado uma raridade”, conta. Até então, apenas dois espécimes tinham sido descobertos e pouco se sabia sobre eles.

Ao todo, Juliano encontrou seis exemplares: três foram devolvidos ao rio e três morreram. Dois desses foram preservados e levados até o Museu Goeldi, em Belém, onde ficaram sob os cuidados do biólogo Marinus Hoogmoed. “Um exemplar já tinha sido encontrado em junho deste ano na Ilha de Mosqueiro, em Belém, mas foi apenas fotografado e devolvido à natureza”, conta Marinus. “Recentemente, encontramos mais três exemplares nessa mesma ilha”.

Cobra-cega

Os olhos da cobra-cega são pequenos e pouco desenvolvidos, mas, se olharmos com atenção, é possível vê-los direitinho. Você consegue encontrá-los? (Foto: Juliano Tupan)

Segundo Adriano Maciel, também biólogo do Museu Goeldi, o apelido de cobra-cega faz muito sentido. “Além de parecer uma cobra, seus olhos são pequenos e pouco desenvolvidos. Ele não enxerga, só percebe a presença da luz”, conta. Outra característica curiosa é a respiração do animal. Por não ter pulmões, ele respira pela pele, que se dobra várias vezes para aumentar a superfície de contato com a água de onde retira o oxigênio.

A Atretochoana eiselti não oferece perigo ao homem, mas o contrário pode acontecer. Apesar de ter ajudado a encontrar novos exemplares, a obra da hidrelétrica retirou parte da água do rio, deixando muitos animais sem oxigênio. Na tentativa de poupá-los, funcionários da empresa injetaram oxigênio na área com pouca água, mas o biólogo Jean Remy Guimarães acredita que o processo pode não ser muito eficaz: “Não há como oxigenar a área por igual, muito menos impedir que os animais saiam do rio e morram”, esclarece.