Dois módulos da exposição Negro de corpo e alma têm como proposta apresentar o olhar do branco sobre o negro e o olhar do negro sobre seu próprio povo. Essas visões permitem perceber como a força do pensamento do homem branco se fez presente e marcou as manifestações artísticas da época.
Entre os brancos, a ambição pelo poder, a conquista de territórios, o comércio de escravos e o sentimento de superioridade, que reduziram o negro a objeto de troca, eram comuns no período do tráfico negreiro. Esse pensamento está presente nas obras de brancos que retratam o povo negro. Ao longo da exposição, encontram-se diversos objetos do cotidiano, como caixas de charutos, saboneteiras e panelas, que tinham a cara de negros esculpida ou pintada. Para os artistas, essas representações reforçavam a idéia de que o negro estaria sempre servindo o branco. Também eram bastante comuns esculturas com imagens negativas dos negros, às vezes retratados sob a forma de diabo e de animais.
No entanto, dois dos artistas brancos que mais se destacaram no período da escravidão foram o alemão Johann Moritz Rugendas e o francês Jean Baptiste Debret. Ao chegarem ao Brasil, os pintores começaram a reproduzir cenas da realidade da escravidão, como os castigos sofridos pelos negros, o cotidiano e as viagens nos navios negreiros. Algumas obras desses artistas fazem parte da exposição.
Mas havia também artistas negros que retrataram sua própria cultura. Alguns tiveram a oportunidade de freqüentar uma academia de arte para aprender a pintar, como Estevão da Silva (que gostava de retratar naturezas mortas), Emmanuel Zanor e Benedito José Tobias, que pintava os negros. Outros não tiveram a mesma chance, mas com o talento conseguiram ser grandes artistas, como Aleijadinho e Mestre Valentim. No entanto, a cultura negra não foi apenas fonte de inspiração no passado: ela continua fascinando os artistas do presente. É o caso do francês Pierre Verger, que veio ao Brasil para conhecer a cultura negra e se encantou pelo candomblé. Não satisfeito, foi à África descobrir as origens do culto. Fotografou os orixás nos terreiros do Brasil e da África. Outros artistas também foram influenciados pela cultura negra e até trocaram de religião, como Mestre Didi e Ronaldo Rêgo.
E é por isso que toda a riqueza desse povo deve ser resgatada e valorizada. A presença do negro foi fundamental na formação do povo e da cultura brasileira que hoje conhecemos. A proposta da exposição é exatamente essa: redescobrir nossas raízes culturais, raciais e artísticas, para podermos entender um pouco mais o significado de ser brasileiro.