Antes que se iniciem as animações de um desenho, vários estudos são feitos para definir os personagens. O Curupira, por exemplo, teve três versões até chegar à forma final. O desenho no canto inferior esquerdo é o definitivo, que ganhou movimento. A animação faz parte de uma série sobre o folclore brasileiro produzida pela Multirio (Imagens cedidas pela Multirio).
Mergulhar até o fundo do mar com o Bob Esponja. Lutar contra o mal com o charme das Meninas Super-Poderosas. Aprontar com o Pica-Pau. No mundo dos desenhos animados, sempre há uma aventura à nossa espera. Mas como são feitos esses programas que tanto prendem a nossa atenção?
Para produzir desenhos animados, é usada a técnica chamada “flipagem”, do verbo to flip , em inglês, que significa mover rapidamente. Com ela, é possível visualizar o movimento de desenhos. Para entender, faça o teste: na ponta de cada folha de um caderno, desenhe algo em diferentes posições, mas seqüencialmente. Por exemplo, um boneco fazendo polichinelo, com os braços e pernas abrindo e fechando. Depois, folheie depressa as pontas do caderno: como mágica, o boneco começa a se mexer! Isso acontece porque as folhas passam em um tempo tão curto que nossos olhos não percebem o intervalo entre elas, mas só aquilo que se modifica no desenho (no caso, a posição dos membros do boneco). Vendo as modificações de forma contínua, temos a sensação de movimento.
Se você achou essa experiência cansativa, por ter de fazer vários desenhos, imagine uma cena em que um personagem corre de um monstro em uma floresta, com cara de medo e olhando para os lados! “Quanto mais detalhados forem os movimentos da animação, mais desenhos precisam ser feitos”, conta Patrícia Dias, produtora de desenhos animados da Empresa Municipal de Multimeios do Rio de Janeiro (Multirio). Para ter um segundo de desenho animado, são necessários, em média, 12 desenhos. Ou seja, em uma animação de 10 minutos, são cerca de 7.200 desenhos!
Tantas ilustrações exigem uma equipe de desenhistas trabalhando a todo vapor. Mas o trabalho começa bem antes de esses desenhos ficarem prontos. Primeiro, deve ser feito um roteiro, que descreve cada cena na ordem dos acontecimentos: qual é a ação e a fala dos personagens, em que cenário eles estão, qual efeito sonoro aparece…
Então é criada uma espécie de história em quadrinhos, chamada de storyboard. Sempre que há uma modificação na cena, mesmo que pequena, desenha-se um novo quadro. Ao mesmo tempo, cada personagem vai sendo definido com riqueza de detalhes. São feitos muitos estudos até que se chegue ao resultado final. “Os desenhos animados são como filmes, a diferença é que não basta filmar a realidade com uma câmera, nós temos que observá-la e depois criá-la”, conta Patrícia.
Assim, além do esforço dos desenhistas, a equipe conta com profissionais que criam a trilha sonora adequada ao ritmo das imagens: músicas, falas, ruídos… Ainda há as pessoas que pensam apenas nos cenários, nas luzes e sombras, e outras que decidem de que cor será cada elemento. Em muitas etapas, o computador ajuda bastante, sobretudo na hora de colorir e de simular o movimento dos desenhos estáticos.
Ao longo desse processo, tudo é discutido em reuniões da equipe de profissionais, liderada pelo diretor do desenho animado. Trabalho de adulto? Que nada! Nas animações realizadas na Multirio sobre lendas brasileiras, crianças de 4 a 10 anos – alunas da rede pública municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro – colaboraram na criação e em todas as fases de produção e realização dos desenhos. Nas reuniões, eram elas que davam palpites sobre como deveriam ser os personagens, cenários e músicas, e qualquer mudança só acontecia com sua aprovação. Quer ver o resultado? Confira abaixo!
O Curupira (6,4 MB) Iara (8,6 MB) O Boto (10,2 MB)