Eu sou daquelas que acham cinema a maior diversão. Tenho lembranças de várias férias pelos filmes que vi quando criança: o ano do E.T., a época dos Trapalhões (é, isso mesmo, todo mundo tem sua fase Trapalhões). Agora, com as minhas filhas, voltamos a contar o tempo em filmes: Shrek de 1 a 4, Toy Story 1, 2 e 3, e por aí vai.
Para você, que é criança hoje, talvez A Invenção de Hugo Cabret (2011), de Martin Scorcese, seja aquele filme do qual você se lembrará no futuro como aquele onde viu, em terceira dimensão, que cinema nem sempre foi visto em terceira dimensão. Você acha, por acaso, que sua tataravó já ia ao cinema de óculos coloridos? Muito pelo contrário: cinema já foi preto e branco, já foi projetado em cinematógrafo e já foi meio mágico, como os truques de Georges Meliès no filme Uma Viagem à Lua (1902), em que um foguete vai parar direto no olho do Homem da Lua.
Para mim, o filme que mais me faz lembrar que cinema tem história é Cinema Paradiso (1988), que nem infantil é. A história se passa em uma pequena cidade da Sicília, na Itália, logo depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e antes da popularização da televisão. O filme mostra o menino Toto tentando ficar amigo de Alfredo, o projecionista. Ele era fascinado pelo cinema e queria passar o máximo de tempo possível lá dentro, vendo filmes.
A época retratada em Cinema Paradiso é aquela em que multidões lotavam as grandes salas de cinema, em que cada lançamento era aguardado como uma grande novidade em cada cidade. Ainda não havia televisão em todas as casas, como hoje; e o rádio, que ainda viciava muita gente, era diversão para todas as horas, mas perdia em encanto para o cinema.
Quem viu Cinema Paradiso sabe que Toto adorava o cinema tanto quanto os filmes. Quando cresceu, Toto se mudou para Roma e só voltou trinta anos depois, no fim da década de 1980, a tempo de ver a destruição do cinema de que tanto gostava, transformado agora em estacionamento.
Engraçado que Giuseppe Tornatore, o diretor, fez este filme pensando que, um dia, as salas de cinema não existiriam mais. Pelo menos até hoje, nada disso aconteceu. É verdade que as salas de cinema ficaram menores e mais vazias, mas continuam tendo a capacidade de mudar o andamento do tempo – vendo um bom filme, ninguém vê os minutos passarem. E, só por isso, já vale a pena gastar duas horas indo ao cinema!