Em 1494, Portugal e Espanha dividiram o mundo entre eles pelo Tratado de Tordesilhas – você já deve ter ouvido falar disso nas aulas de história. Todas as terras que ficavam a oeste de uma determinada longitude (“100 léguas a oeste de Cabo Verde”) pertenciam à Espanha; todas as que ficavam a leste pertenciam a Portugal. Essa linha imaginada para dividir o mundo passava quase pelo meio do atual território do Brasil, que ainda não tinha sido descoberto.
Porém, era muito difícil naquela época determinar exatamente a longitude. Por isso, ficava praticamente impossível dizer se um lugar estava a leste ou a oeste da linha definida no tratado. Os portugueses se aproveitaram disso para explorar Brasil adentro, e nosso país acabou ficando muito maior, com mais da metade de seu território dentro do que era território espanhol por direito, se o tratado de Tordesilhas fosse possível de ser seguido.
Você pode estar se perguntando: mas onde está a dificuldade de localizar os territórios? Bem, para colocar um local em um mapa, uma maneira possível é determinar sua posição medindo sua latitude e sua longitude.
Latitude é o quanto o local está mais ao norte ou mais ao sul do equador, linha imaginária que dá a volta na Terra exatamente no meio do caminho entre os dois polos. Ela é fácil de determinar pela posição do Sol em relação ao horizonte: se o lugar está muito perto dos polos o Sol não sobe muito no céu ao longo do dia; já se o lugar está mais perto do equador, ele sobe muito mais. Logo, medindo a altura do Sol em relação ao horizonte ao meio-dia podemos saber em que latitude estamos.
Já a longitude é bem mais complicada. Não há nada no movimento do Sol, das estrelas, ou da Lua que seja visualmente diferente visto de um lugar mais a leste ou mais a oeste de outro lugar, então não podemos usar apenas os movimentos dos astros para definir a diferença de longitude entre os dois lugares.
Uma solução possível é usar um evento celeste que seja fácil de visualizar de muitos lugares do planeta ao mesmo tempo e que ocorra num momento específico. Por exemplo, um eclipse da Lua.
Como a hora do dia é diferente para cada longitude, uma pessoa mais a oeste verá o eclipse começar mais cedo do que outra mais a leste. Marcando esses horários e depois comparando suas anotações, essas pessoas podem descobrir a diferença de suas longitudes.
Uma vez que a circunferência da Terra é dividida em 360 graus e o planeta leva 24 horas para completar uma volta em torno de si mesmo, para cada hora de diferença entre as anotações da hora do início do eclipse corresponderão 15 graus de diferença de longitudes.
Hoje existem outras maneiras de determinar a diferença de longitudes entre duas pessoas em lugares diferentes – por exemplo, medindo o atraso entre os relógios das duas pessoas, ou consultando o Google Earth, ou usando um GPS. Mas deve ser divertido poder fazer de um jeito que seria possível mesmo para as pessoas em tempos muito antigos, quando não havia relógios portáteis confiáveis, satélites ou internet.
Uma ótima oportunidade para fazer uma medição deste tipo é o eclipse total da Lua que ocorrerá na madrugada do dia 14 para o dia 15 de abril deste ano. Ele será visível em todas as Américas e até mesmo na Nova Zelândia! Se você tiver um amigo ou parente que more em um lugar distante, por que não aproveitar para medir a diferença de longitude entre vocês?
Mesmo que não consiga alguém para fazer esse experimento, não desanime: ver um eclipse total da Lua é uma experiência incrível em si mesma, um grande espetáculo da natureza! Este vai acontecer na madrugada de segunda para terça-feira, então você pode ter trabalho convencendo os adultos da sua casa a deixarem você ficar acordado a noite toda. Argumentar que é em nome da ciência talvez funcione…