Sol, férias e… mosquitos

Janeiro tem sol, férias da escola, passeios… Que maravilha! Mas a má notícia é que esse mês — por trazer muito calor, mas também chuva — marca a época ideal para a reprodução dos mosquitos, especialmente o mosquito da dengue.

A dengue é uma doença causada por um vírus transmitido para o ser humano por meio da picada de mosquitos infectados. Só em 2010, mais de um milhão de pessoas em todo o mundo pegaram dengue, a maioria delas no Brasil, onde quase seiscentas morreram.

 

O mosquito da dengue é apenas uma das mais de 900 espécies do seu gênero, que ocorrem em quase todo o mundo (foto: Muhammad Mahdi Karim/Creative Commons).

O responsável pela transmissão da dengue em nosso país é o mosquito Aedes aegypti. Em grego, a palavra aedes quer dizer “desagradável”. Um ótimo adjetivo para um bichinho que suga o nosso sangue e, ainda por cima, pode transmitir doenças, concorda?

Em muitos países, o Aedes aegypti também transmite a febre amarela urbana, doença que não é registrada no Brasil desde 1942.

Os mosquitos machos não picam a gente. Eles só se alimentam de seiva, néctar e outros nutrientes dos vegetais (foto: Marcos Teixeira de Freitas/Creative Commons).

Confusão no cartório
O mosquito da dengue não é originário do nosso país, e, sim, da África. O nome específico, aegypti, significa “do Egito”. Isso quer dizer que este mosquito foi descoberto pela primeira vez no Egito, certo? Nem tanto… Acompanhe a história para entender!

Os cientistas acreditam que, durante o período de colonização das Américas, o Aedes aegypti viajou acidentalmente dentro dos navios que carregavam escravos africanos para países como o Brasil. Na metade do século 20, esse mosquito chegou a ser erradicado do nosso país. Ou seja, foi exterminado por completo. Mas como nações vizinhas não conseguiram acabar com o inseto, a espécie retornou, aos poucos, ao Brasil.

Imagine que o seu nome é João. Sua família, seus amigos, todo mundo te chama assim. Mas, um dia, você descobre que seu nome verdadeiro é José! Você vai mudar seu nome de repente ou prefere manter o nome antigo, mesmo sabendo que não é o correto? Achou estranho? Pois foi mais ou menos isso o que ocorreu com o mosquito da dengue!

O nome do mosquito da dengue deveria ser Aedes fasciatus. Mas, em 1920, devido a uma falha de um cientista, todo mundo deixou de chamá-lo assim. Em vez disso, ele passou a ser conhecido como Aedes aegypti, nome de uma espécie de mosquito do Egito.

O sangue é um nutriente fundamental para o desenvolvimento dos ovos das fêmeas dos mosquitos. É por isso que elas picam outros animais, como os humanos. (foto: United States Department of Health and Human Services).

Muitos anos se passaram até que o erro fosse percebido. O que fazer? Corrigir seu nome causaria uma confusão ainda maior. Então, em 1964, a Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica, um tipo de tribunal que cria as regras para se batizar as espécies animais, tornou oficial o uso do nome Aedes aegypti para o mosquito da dengue. Hoje, o nome Aedes fasciatus não é mais usado e o verdadeiro Aedes aegypti (o do Egito) é chamado de Aedes caspius.

Em latim, fasciatus quer dizer “anilhado”, ou seja, “com pequenos aros ou argolas”, uma referência às manchas brancas no corpo e pernas do mosquito da dengue.

Mas, afinal: o mosquito da dengue pode ser encontrado no Egito ou não? Pode, mas só em algumas regiões, e não é muito comum por lá. Na verdade, o Egito é um país com poucas espécies de mosquitos. São menos de trinta. Pra você ter uma ideia, no Brasil há quase quinhentas espécies diferentes conhecidas!

O mosquito-tigre-asiático
O Aedes aegypti não é o único mosquito que pode transmitir dengue. Uma espécie do mesmo gênero, chamado Aedes albopictus também merece atenção.

Nativo da Ásia e da Oceania, o mosquito-tigre-asiático foi introduzido em muitos países do mundo. Isso ocorreu principalmente por meio do comércio internacional de pneus, que eram levados de uma região a outra com água acumulada em seu interior, repleta de larvas. No Brasil, ele foi encontrado pela primeira vez em 1986, no Rio de Janeiro e Minas Gerais, mas hoje está presente em quase todo o país (foto: Sean McCann).

Ao contrário do Aedes aegypti, o Aedes albopictus prefere viver em áreas rurais, longe das cidades. Felizmente, ainda não há nenhum caso no Brasil de alguém que tenha pegado dengue após ter sido picado por este mosquito. O nome albopictus vem do latim “pintado de branco”, por causa do seu padrão de cor. As listras que ele possui no corpo também lhe renderam o nome de “mosquito-tigre-asiático”.

A palavra mosquito tem origem na língua espanhola e quer dizer “mosca pequena”. Já a palavra pernilongo vem de “pernas longas”, justamente por causa do terceiro par de pernas desses animais, que geralmente são bem compridos.