O café é feito a partir de sementes torradas e moídas de plantas do gênero Coffea – assim como os animais, os vegetais e todos os outros seres vivos também possuem nomes científicos. Existem mais de 100 espécies de Coffea, mas duas delas são mais frequentemente cultivadas para produção de café: Coffea arabica e Coffea canephora.
Embora as espécies de Coffea sejam naturais da África e do sudeste da Ásia, hoje são cultivadas em dezenas de países, inclusive no Brasil. Mas o café mais estranho e caro do mundo é produzido longe daqui, nas ilhas da Indonésia e Filipinas. Lá vivem pequenos animais chamados civetas-asiáticas, pertencentes a um curioso grupo de mamíferos aparentado com os gatos.
Esses bichos adoram frutos, incluindo os de Coffea. Quando uma civeta come os frutos de café, seu organismo digere a polpa, mas mantém as sementes intactas, e elas são eliminadas junto com as fezes. Depois, as fezes são coletadas e lavadas, e as sementes são torradas para produzir um café especial e raro, chamado kopi luwak (“café da civeta” na língua da Indonésia). Bactérias e enzimas do sistema digestório das civetas atuam sobre as sementes de café, o que faz do kopi luwak uma bebida muito saborosa.
Tão curioso como a história do kopi luwak é o nome científico das civetas-asiáticas. Os pesquisadores as chamam de Paradoxurus hermaphroditus. Em grego, Paradoxurus quer dizer “cauda paradoxal”. Dizemos que uma coisa é paradoxal quando ela parece ser contraditória. O paradoxo da cauda das civetas-asiáticas é que ela parece ser preensil – usada para agarrar em galhos e troncos como se fosse um quinto membro –, mas não é!
O nome específico hermaphroditus não é menos curioso. Na mitologia grega, Hermafrodito era o filho de dois deuses: Hermes e Afrodite. Uma ninfa (divindade da natureza) chamada Salmacis era tão apaixonada por Hermafrodito que pediu aos deuses para que os dois ficassem unidos para sempre. Como resultado, Hermafrodito e Salmacis foram transformados em um único indivíduo, macho e fêmea ao mesmo tempo.
Embora esse mito pareça estranho, na natureza – principalmente entre os invertebrados – existem alguns animais “hermafroditos”, ou seja, que possuem os dois sexos em um mesmo indivíduo. Este não é o caso das civetas-asiáticas, mas, por ser difícil diferenciar macho e fêmea dessa espécie, ela acabou batizada de hermaphroditus.
E o nome “civeta”? Este vem do latim zibethum, que, por sua vez, tem origem na palavra árabe zabad, usada para se referir a um fluido – e seu cheiro – obtido de uma glândula que esses animais possuem. Existem cerca de 40 espécies diferentes de civetas no mundo (originárias da África, Europa e Ásia), e, no passado, o “óleo” da glândula de algumas delas era muito utilizado na fabricação de perfumes.
Agora que você já sabe sobre o Paradoxurus hermaphroditus e o kopi luwak, tenho uma pergunta: você teria coragem de experimentar uma xícara desse café?
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!