Sobre café, civetas e cocô

Em praticamente todo lar brasileiro as visitas são recebidas com um “cafezinho”. Nas padarias e lanchonetes, o que não falta é alguém bebendo café expresso, café com leite, com chocolate, canela, e até gelado!  São quase infinitas as formas de se preparar e degustar esta que é uma das bebidas mais consumidas no mundo.

As primeiras mudas de (i)Coffea (/i) foram trazidas ao Brasil no século 18 e, hoje, nosso país é o segundo maior produtor de café do mundo, atrás somente da Colômbia. A palavra “café” surgiu a partir do italiano “caffè”, que veio do turco “qahvé”, que tem origem no termo árabe “qahwah” (“vinho”). Esta também é a origem do nome científico (i)Coffea(/i). Uma segunda teoria sugere que o nome vem de Kaffa, uma cidade da Etiópia onde essas plantas teriam sido cultivadas pela primeira vez. (Foto: Wikimedia Commons)

O café é feito a partir de sementes torradas e moídas de plantas do gênero Coffea – assim como os animais, os vegetais e todos os outros seres vivos também possuem nomes científicos. Existem mais de 100 espécies de Coffea, mas duas delas são mais frequentemente cultivadas para produção de café: Coffea arabica e Coffea canephora.

Embora as espécies de Coffea sejam naturais da África e do sudeste da Ásia, hoje são cultivadas em dezenas de países, inclusive no Brasil. Mas o café mais estranho e caro do mundo é produzido longe daqui, nas ilhas da Indonésia e Filipinas. Lá vivem pequenos animais chamados civetas-asiáticas, pertencentes a um curioso grupo de mamíferos aparentado com os gatos.

A espécie (i)Coffea arabica(/i) é originária da Península Arábica e do nordeste da África, e por isso ganhou esse nome. Além disso, os árabes foram um dos povos responsáveis por difundir o consumo de café no mundo. Já a (i)Coffea canephora(/i) tem seu nome derivado da palavra grega (i)kanephoros(/i) (portador de cesto), em referência a uma estrutura que envolve parte da sua flor. (Foto: Stylurus / Flickr)

Esses bichos adoram frutos, incluindo os de Coffea. Quando uma civeta come os frutos de café, seu organismo digere a polpa, mas mantém as sementes intactas, e elas são eliminadas junto com as fezes. Depois, as fezes são coletadas e lavadas, e as sementes são torradas para produzir um café especial e raro, chamado kopi luwak (“café da civeta” na língua da Indonésia). Bactérias e enzimas do sistema digestório das civetas atuam sobre as sementes de café, o que faz do kopi luwak uma bebida muito saborosa.

Tão curioso como a história do kopi luwak é o nome científico das civetas-asiáticas. Os pesquisadores as chamam de Paradoxurus hermaphroditus. Em grego, Paradoxurus quer dizer “cauda paradoxal”. Dizemos que uma coisa é paradoxal quando ela parece ser contraditória. O paradoxo da cauda das civetas-asiáticas é que ela parece ser preensil – usada para agarrar em galhos e troncos como se fosse um quinto membro –, mas não é!

O nome específico hermaphroditus não é menos curioso. Na mitologia grega, Hermafrodito era o filho de dois deuses: Hermes e Afrodite. Uma ninfa (divindade da natureza) chamada Salmacis era tão apaixonada por Hermafrodito que pediu aos deuses para que os dois ficassem unidos para sempre. Como resultado, Hermafrodito e Salmacis foram transformados em um único indivíduo, macho e fêmea ao mesmo tempo.

Civeta

As civeta-asiáticas são originárias de florestas de diversos países do sudeste da Ásia. Os indivíduos vivem solitários sobre as árvores e têm atividade noturna. Atingem cerca de um metro de comprimento total, sendo a cauda responsável por metade desse tamanho. (Foto: Celine Low / Flickr)

Embora esse mito pareça estranho, na natureza – principalmente entre os invertebrados – existem alguns animais “hermafroditos”, ou seja, que possuem os dois sexos em um mesmo indivíduo. Este não é o caso das civetas-asiáticas, mas, por ser difícil diferenciar macho e fêmea dessa espécie, ela acabou batizada de hermaphroditus.

E o nome “civeta”? Este vem do latim zibethum, que, por sua vez, tem origem na palavra árabe zabad, usada para se referir a um fluido – e seu cheiro – obtido de uma glândula que esses animais possuem. Existem cerca de 40 espécies diferentes de civetas no mundo (originárias da África, Europa e Ásia), e, no passado, o “óleo” da glândula de algumas delas era muito utilizado na fabricação de perfumes.

Agora que você já sabe sobre o Paradoxurus hermaphroditus e o kopi luwak, tenho uma pergunta: você teria coragem de experimentar uma xícara desse café?


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Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora

Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!