Tudo começou no século 18 com um apotecário – espécie de farmacêutico de antigamente – chamado Albertus Seba, que vivia na Holanda. Naquele tempo, embarcações europeias navegavam pelo mundo em busca de riquezas em terras distantes.
Seba aproveitou a oportunidade para conhecer mais sobre as regiões inexploradas sem sair de casa, comprando “curiosidades” trazidas de longe por marinheiros e viajantes. Ossos, conchas, plantas, rochas e até animais empalhados eram adquiridos por ele, que, aos poucos, foi montando o maior “gabinete de curiosidades” daquele tempo.
Entre 1734 e 1765, as curiosidades da coleção de Seba foram apresentadas em quatro grandes livros, com centenas de ilustrações. Dentre elas, estava um sapo que, segundo o apotecário, vivia nos mares das Américas.
Alguns anos depois, em 1758, o sueco Carl Linné publicou o livro que deu início à classificação dos seres vivos como conhecemos hoje, ou seja, com um nome científico formado por duas palavras, e se baseou no texto de Seba para nomear aquela espécie de sapo, chamando-a Rana marina (“rã marinha” em latim). Além dela, outras 16 espécies de sapos, rãs e pererecas foram incluídas por Linné no gênero Rana.
Com o passar dos anos, mais e mais espécies receberam nomes científicos. Os pesquisadores notaram, então, que faria mais sentido se fossem criados vários gêneros para agrupar as diferentes espécies de anfíbios do mundo de acordo com suas semelhanças.
Assim, apenas algumas espécies de rãs continuaram a se chamar Rana, enquanto os cururus foram transferidos para um novo gênero chamado Bufo. A palavra significa “sapo” em latim, mas pode ter surgido do alemão puffen, “inflar”, por causa do comportamento dos sapos de encherem os pulmões para se defender, parecendo maiores do que realmente são.
Então, Rana marina virou Bufo marinus. Mas por que hoje a espécie é chamada Rhinella marina?
O gênero Rhinella foi criado pelo austríaco Leopold Fitzinger em 1826 para incluir algumas espécies de sapos com um focinho longo e fino. Daí a origem do nome, que é uma mistura de grego e latim, significando “narizinho”.
Alguns anos atrás, pesquisas com dados de DNA mostraram que os cururus de nariz curto da América do Sul, como o Bufo marinus, são mais aparentados evolutivamente com esses sapos de focinho comprido e afilado – e que também vivem por aqui – do que com os demais sapos do resto do planeta. Assim, o nome Bufo passou a ser usado apenas para algumas espécies do Velho Mundo, enquanto que os nossos cururus agora pertencem todos ao gênero Rhinella.
Como você já deve ter reparado, o nome Rhinella marina é usado para animais que não possuem um focinho longo e fino, nem vivem no mar. Então, por que continuar a chamá-los assim? Simplesmente porque existem regras internacionais definidas pelos pesquisadores que não permitem alterar o nome por motivos como esse.
Algo parecido acontece conosco. Por exemplo, um rapaz chamado Bruno – nome que tem origem em brūn (“marrom” em alemão antigo) – não pode trocar de nome simplesmente por ser loiro. E, assim, nossos cururus-gigantes permanecem com seu nome esquisito!
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!