Química na veia

O sangue é fundamental para a manutenção de nossa vida e grandes perdas devem ser imediatamente repostas para evitar a morte. Por isso, é importante manter nos hospitais um estoque deste líquido precioso! (Ilustração: Mariana Massarani)

Ninguém quer que um acidente aconteça, mas, às vezes, uma pessoa pode, em uma batida de carro, por exemplo, ficar gravemente ferida e perder grande quantidade de sangue. Nesses casos, os médicos precisam descobrir qual é o tipo sanguíneo do paciente e providenciar rapidamente uma transfusão, ou seja, repor o sangue perdido pelo sangue doado por outra pessoa.

Para que a transfusão dê certo, é muito importante que o doador de sangue seja compatível com o receptor. Apesar de realizar sempre a mesma função, o sangue das pessoas pode ser de diferentes tipos e alguns deles não podem ser misturados. Vamos pedir uma ajudinha à química para entender por quê?

As diferenças mais comuns entre os tipos de sangue estão relacionadas com o grupo ABO (tipos sanguíneos A, B, AB e O) e com o grupo Rh (positivo e negativo). No dia a dia, são esses os grupos em que classificamos o sangue das pessoas – você já deve ter ouvido falar que alguém tem sangue A positivo ou O negativo, entre outros exemplos.

No gráfico acima você confere que tipos de sangue são compatíveis para transfusão. Indivíduos do tipo sanguíneo O, por exemplo, podem doar sangue para indivíduos de qualquer tipo sanguíneo, pois a estrutura do oligossacarídeo presente neste tipo de sangue (com apenas quatro carboidratos) também está presente nos outros tipos de sangue (Gráfico: Nato Gomes)

Para encontrar as diferenças entre os tipos sanguíneos é preciso olhar para as hemácias – células do sangue responsáveis pelo transporte de oxigênio pelo corpo. De acordo com o grupo, elas apresentam pequenas alterações na estrutura de moléculas chamadas oligossacarídeos, presentes em sua superfície.

No grupo ABO, por exemplo, as diferenças estão na composição de um oligossacarídeo formado por quatro carboidratos: fucose-galactose-N-acetilglicosamina-galactose. Calma, não precisa decorar esses nomes! O importante é você saber que, na maior parte dos casos, um quinto carboidrato é adicionado.

Dependendo das características genéticas de uma pessoa, o quinto carboidrato pode ser de dois tipos diferentes. O resultado são os tipos sanguíneos A e B. Algumas pessoas juntam esses dois tipos, ou seja, fabricam oligossacarídeos dos tipos A e B em quantidades quase iguais – formam, assim, o tipo AB. Já as pessoas do tipo O não adicionam o quinto carboidrato à molécula. E o que isso tem a ver com transfusões de sangue?

Você pode explicar a seus pais ou irmãos mais velhos a importância de participar das campanhas de doação de sangue. Os doadores devem ter entre 16 e 67 anos (Ilustração: Mariana Massarani)

Bem, as diferenças na estrutura dos oligossacarídeos são reconhecidas pelo sistema imunológico de cada um. Isso quer dizer que, se uma pessoa com sangue tipo A recebe por transfusão sangue do tipo B, as células de defesa de seu corpo interpretam a presença do sangue diferente como uma invasão, e começam a produzir anticorpos contra ele. O resultado é uma reação alérgica muito forte e que pode levar à morte do paciente.

Todo cuidado é pouco na hora de fazer uma transfusão de sangue, e agora você já entende por quê. Aproveite para dividir o que aprendeu com os seus amigos e, se quiser saber mais sobre como os cientistas descobriram essas diferenças entre os tipos sanguíneos, leia a CHC 230!

Matéria publicada em 15.03.2013

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Joab Trajano Silva

Desde criança, o autor da coluna No laboratório do Sr. Q pensava em ser biólogo. Mas, enquanto cursava a faculdade, descobriu que precisava de conhecimentos químicos para entender como os seres vivos funcionam. Juntou as duas coisas e foi ser bioquímico.

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