Durante o dia, os pássaros faziam sua sinfonia. Entre muitos piu-pius, era possível ouvir o gavião-carrapateiro gritar pinhé, a gralha fazer cancã, e o bem-te-vi cantarolar pra todo lado com o som que lhe rendeu o nome. Quando o sol foi baixando no horizonte ao fim da tarde, o cri-cri dos grilos começou. Pouco depois, ouvia-se o coaxo dos sapos, rãs e pererecas. No meio daquilo tudo, dava pra escutar um pocotó, pocotó, pocotó, mas não era nenhum cavalo. Na verdade, o som vinha do chão, bem às margens do riachinho que se formou com as chuvas.
Era o local escolhido pelos machos de uma pequena espécie de rã para fazer coro e atrair as fêmeas. Pocotó, pocotó, pocotó… O curioso canto atraiu a atenção de pesquisadores de universidades do Rio Grande do Norte, Paraíba, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Eles perceberam que aquelas rãs pertenciam ao gênero Pseudopaludicola, cujas espécies vivem em áreas abertas de muitas regiões da América do Sul, desde a Argentina até a Venezuela. Para poder identificar a qual espécie daquele gênero as rãzinhas-pocotó pertenciam, foi preciso gravar o seu canto e também levar alguns machos, fêmeas e girinos para o laboratório – tudo feito com permissão dos órgãos ambientais. Após uma série de análises cuidadosas, os especialistas chegaram à conclusão: aquela era uma espécie ainda desconhecida!
Na hora de escolher o nome do animal, não restava dúvida. Que tal reproduzir o som do seu canto em forma de uma palavra, ou seja, uma onomatopeia? Assim nasceu a Pseudopaludicola pocoto – a falta do acento é porque eles não são usados em nomes científicos.
Se você gostou da história, trate de ouvir o galope, quer dizer, o coaxo da rãzinha-pocotó:
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!