Pocotó, pocotó…

Ping, ping, ping… Depois de meses de seca, as primeiras gotas começaram a cair. Em pouco tempo a chuva foi ficando mais forte, fazendo chuaaá por todos os lados. Estava escuro como breu, mas às vezes o céu se iluminava, com um estrondoso cabrum dos trovões. A terra rachada virou lama, e aqui e ali se formaram poças d’água e pequenos riachos. Sementes germinaram, animais saíram de seus esconderijos, e logo a Caatinga explodiu em vida.

Durante o dia, os pássaros faziam sua sinfonia. Entre muitos piu-pius, era possível ouvir o gavião-carrapateiro gritar pinhé, a gralha fazer cancã, e o bem-te-vi cantarolar pra todo lado com o som que lhe rendeu o nome. Quando o sol foi baixando no horizonte ao fim da tarde, o cri-cri dos grilos começou. Pouco depois, ouvia-se o coaxo dos sapos, rãs e pererecas. No meio daquilo tudo, dava pra escutar um pocotó, pocotó, pocotó, mas não era nenhum cavalo. Na verdade, o som vinha do chão, bem às margens do riachinho que se formou com as chuvas.

A (i)Pseudopaludicola pocoto(/i) pode ser encontrada em áreas de Caatinga, do Ceará até Pernambuco. Os machos começam a coaxar no fim da tarde e continuam com a cantoria até perto da madrugada. Mas ver essas rãs não é nada fácil. Apesar de cantarem alto, elas medem menos de 1,5 centímetro e se escondem ao menor sinal de perigo. (foto: Diego J. Santana)

A (i)Pseudopaludicola pocoto(/i) pode ser encontrada em áreas de Caatinga, do Ceará até Pernambuco. Os machos começam a coaxar no fim da tarde e continuam com a cantoria até perto da madrugada. Mas ver essas rãs não é nada fácil. Apesar de cantarem alto, elas medem menos de 1,5 centímetro e se escondem ao menor sinal de perigo. (foto: Diego J. Santana)

Era o local escolhido pelos machos de uma pequena espécie de rã para fazer coro e atrair as fêmeas. Pocotó, pocotó, pocotó… O curioso canto atraiu a atenção de pesquisadores de universidades do Rio Grande do Norte, Paraíba, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Eles perceberam que aquelas rãs pertenciam ao gênero Pseudopaludicola, cujas espécies vivem em áreas abertas de muitas regiões da América do Sul, desde a Argentina até a Venezuela. Para poder identificar a qual espécie daquele gênero as rãzinhas-pocotó pertenciam, foi preciso gravar o seu canto e também levar alguns machos, fêmeas e girinos para o laboratório – tudo feito com permissão dos órgãos ambientais. Após uma série de análises cuidadosas, os especialistas chegaram à conclusão: aquela era uma espécie ainda desconhecida!

O nome (i)Pseudopaludicola(/i) foi criado em 1926, pelo pesquisador Alípio de Miranda-Ribeiro (foto). Alípio o escolheu para identificar um grupo de espécies que se pareciam com as de outro gênero, chamado (i)Paludicola(/i) – “habitante dos brejos”, em latim. Já que (i)pseudo(/i) quer dizer “falso” em grego, podemos traduzir (i)Pseudopaludicola(/i) como “falsa (i)Paludicola(/i)”. (fotos: Diego J. Santana e Wikimedia Commons / (a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)CC BY-SA 3.0(/a))

O nome (i)Pseudopaludicola(/i) foi criado em 1926, pelo pesquisador Alípio de Miranda-Ribeiro (foto). Alípio o escolheu para identificar um grupo de espécies que se pareciam com as de outro gênero, chamado (i)Paludicola(/i) – “habitante dos brejos”, em latim. Já que (i)pseudo(/i) quer dizer “falso” em grego, podemos traduzir (i)Pseudopaludicola(/i) como “falsa (i)Paludicola(/i)”. (fotos: Diego J. Santana e Wikimedia Commons / (a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)CC BY-SA 3.0(/a))

Na hora de escolher o nome do animal, não restava dúvida. Que tal reproduzir o som do seu canto em forma de uma palavra, ou seja, uma onomatopeia? Assim nasceu a Pseudopaludicola pocoto – a falta do acento é porque eles não são usados em nomes científicos.

Se você gostou da história, trate de ouvir o galope, quer dizer, o coaxo da rãzinha-pocotó:


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Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora

Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!