As rãs-pimenta possuem um “tempero natural” nada agradável de sentir, mas excelente para evitar predadores: sua pele produz substâncias que, em contato com a boca, olhos ou narinas, podem causar um ardor intenso, como se fossem pimenta de verdade. Ui!
Essas espécies podem ser encontradas nas Américas Central e do Sul, incluindo o Brasil. Todas pertencem ao gênero Leptodactylus – nome que, em grego, significa “dedos finos”, uma característica desses animais.
A espécie mais conhecida de rã-pimenta vive principalmente no Sudeste do Brasil, mas também pode ser encontrada em algumas áreas das regiões Sul e Centro-Oeste. Os cientistas a chamam de Leptodactylus labyrinthicus, nome que, em latim, faz referência à cor do ventre desses bichos, que é branco com muitas marcas escuras, como se tivessem um labirinto desenhado na barriga.
Muito parecida com a Leptodactylus labyrinthicus é a Leptodactylus vastus, habitante do norte do Cerrado e da Caatinga do nordeste brasileiro. Em latim, vastus quer dizer “enorme”. Para uma espécie cujos indivíduos podem atingir quase 20 centímetros, este parece ser um ótimo nome!
A Amazônia também é lar de algumas rãs-pimenta. Em 1972, Ronald Heyer, maior especialista sobre esses anfíbios no mundo, batizou uma espécie de Leptodactylus knudseni, em homenagem ao seu professor, Jens Knudsen, que o incentivou a se tornar um pesquisador. Em 1995, o cientista nomeou outra espécie, que vive em áreas rochosas do norte do Brasil: Leptodactylus myersi, em homenagem a um amigo biólogo, Charles Myers. Por fim, em 2005, quando descreveu mais uma espécie de rã-pimenta, Heyer resolveu dar-lhe o nome do Pará, estado onde foi descoberta. Assim, nasceu Leptodactylus paraensis.
Outra espécie curiosa, e com nome mais curioso ainda, é a Leptodactylus pentadactylus, que pode ser encontrada em diversas regiões da Amazônia. Ela foi a primeira rã-pimenta a ser nomeada, em 1768, por Josephus Nicolaus Laurenti. Ele baseou sua descrição em uma ilustração de 1734, presente no livro de outro pesquisador daquele tempo, Albertus Seba.
No livro de Seba havia um desenho de uma rã com cinco dedos nos membros anteriores. Então, Laurenti resolveu dar-lhe o nome específico pentadactylus, que significa “cinco dedos” em grego. Só tem um probleminha: nenhuma espécie de sapo, rã ou perereca possui cinco dedos nos membros anteriores (apenas nos posteriores)! Por que a rã do livro de Seba foi desenhada com cinco dedos? Ninguém sabe.
Existem ainda algumas espécies que, embora não costumem ser chamadas de “pimenta” pela população, pertencem ao mesmo grupo dessas rãs. Leptodactylus flavopictus (“pintado de amarelo”, em latim), que só vive em ambientes próximos do litoral do Espírito Santo até Santa Catarina, é assim chamada devido à presença de manchas amarelas em seu ventre e laterais do corpo. Já Leptodactylus rhodomystax, uma espécie que vive na Amazônia, possui um nome que significa “bigode rosado” em grego, graças a uma linha rosa ou avermelhada no lábio superior.
Outra espécie amazônica, Leptodactylus stenodema (“corpo estreito”, em grego), ganhou esse nome porque possui exemplares que não passam de 10 centímetros de comprimento. Agora, nome poético mesmo é o da Leptodactylus syphax, que, em grego, quer dizer “vinho doce novo”. Parece estranho, mas tem lá seus motivos: vinhos geralmente têm cor avermelhada, assim como algumas partes do corpo dessa espécie, encontrada em áreas rochosas do Cerrado e da Caatinga.
Com tantas espécies de rãs-pimenta vivendo por aí, podemos dizer que os ecossistemas brasileiros possuem um tempero especial, você não acha?
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!