Peixe com camarão

Moreias, tubarões, polvos e muitos outros animais carnívoros: já pensou nos riscos de ser um peixinho ou camarãozinho no fundo do mar? Não é por acaso que as espécies marinhas têm uma grande variedade de formas de se proteger: espinhos, venenos, camuflagem… Vale tudo para não virar uma refeição submarina!

Os ambientes marinhos abrigam uma série de predadores. Não é fácil ser pequeno embaixo d’água! (foto: João Paulo Krajewski)

Os ambientes marinhos abrigam uma série de predadores. Não é fácil ser pequeno embaixo d’água! (foto: João Paulo Krajewski)

Alguns animais, porém, contam com um ajuda extra para sobreviver. É o caso do peixe com camarão. Não, não estamos falando do prato suculento, mas do caso de algumas espécies de camarões e de peixes que se ajudam. Acompanhe! Alguns camarões constroem tocas subterrâneas, verdadeiros esconderijos no fundo do mar. Dedicado, o camarão sempre mantém a “casa” arrumada. Passa o dia retirando areia, dejetos e outros materiais de dentro da sua toca, um verdadeiro entra e sai o tempo todo! Tanto trabalho, porém, deixa o crustáceo exposto a predadores. E é justamente nessa hora que o camarão conta com uma ajuda muito especial.

Um gobio ((i)Amblyeleotris yanoi(/i)) junto a seu companheiro de toca, o camarão ((i)Alpheus randalli(/i)). (foto: João Paulo Krajewski)

Um gobio ((i)Amblyeleotris yanoi(/i)) junto a seu companheiro de toca, o camarão ((i)Alpheus randalli(/i)). (foto: João Paulo Krajewski)

Algumas espécies de camarão dividem a toca com um peixe gobio, verdadeiros parceiros. A situação é a seguinte, quando o camarão sai da toca para limpá-la, mantém uma ou duas de suas antenas em contato com o peixe, que permanece na entrada da casa, atento a qualquer movimentação. Ao perceber uma ameaça, o gobio agita suas nadadeiras ou se move em direção à toca, o que é rapidamente percebido pelas antenas sensíveis do camarão, que imediatamente busca a proteção e corre para dentro da casa. Além de serem bons vigilantes, alguns gobios trazem até alimento ao camarão, como moluscos e algas. Assim, graças a essa parceria, o camarão consegue cuidar melhor de sua toca e ainda comer bem, em quantidade e variedade, o que o faz crescer mais rapidamente do que na ausência do gobio. Esse peixe é ou não é parceiraço?!

A associação entre o gobio ((i)Amblyeleotris periophthalma(i)) e o camarão ((i)Alpheus ochrostriatus(/i)) beneficia as duas espécies. Um verdadeiro mutualismo! (foto: João Paulo Krajewski)

A associação entre o gobio ((i)Amblyeleotris periophthalma(/i)) e o camarão ((i)Alpheus ochrostriatus(/i)) beneficia as duas espécies. Um verdadeiro mutualismo! (foto: João Paulo Krajewski)

Mas, será que o gobio também ganha nessa associação? Ganha sim – e muito! Em primeiro lugar, a toca do camarão também é um esconderijo contra predadores do peixe. Fora isso, ao escavar sua toca, o camarão por vezes desenterra itens que servem como alimento para o peixe. Não é à toa que, em experimentos científicos, gobios separados dos camarões foram rapidamente capturados pelos predadores. Por fim, em alguns casos, o camarão se alimenta de parasitas e tecido morto do corpo do gobio, o que deixa o peixe mais limpo e saudável.

Por oferecer vantagens tanto para o peixe como para o camarão, essa associação é classificada na ciência como mutualismo, ou seja, uma interação em que todas as espécies envolvidas se beneficiam. Em algumas espécies de gobio e camarão, a associação não só é importante, mas obrigatória para os animais, ou seja: um não sobrevive sem o outro. Peixe com camarão é ou não é uma boa combinação?