Mais de um século antes do programa Apollo, que levou o homem à Lua em 1969, a imaginação de Júlio Verne já havia levado três “astronautas” até lá. No livro Da Terra à Lua, de 1865, membros de um grupo chamado Clube do Canhão – uma organização americana fictícia especializada em armas e balística – têm a ideia de construir um canhão imenso capaz de disparar um projétil até a Lua.
No entanto, em vez de pousar na superfície lunar, a bala de canhão – que carregava três pessoas – começa a orbitar em volta do satélite. O destino dos três heróis só será descrito em um livro posterior, Em Torno da Lua, de 1870.
É curioso notar que o módulo de exploração lunar da Apollo 11, o primeiro a descer à Lua, também tinha três tripulantes. Outra característica semelhante entre a história de Verne e a missão Apollo é que o canhão de Da Terra à Lua, o Columbiad, é posicionado e disparado da cidade de Tampa, na Flórida, a cerca de 30 quilômetros de distância de Cabo Canaveral, de onde a Nasa, agência espacial americana, acabou lançando o foguete que levou os astronautas à Lua em 1969.
Não pense que foi pura coincidência: para dar mais velocidade ao foguete, é preciso lançá-lo o mais próximo possível da linha do equador, e a Flórida é o estado mais ao sul dos Estados Unidos, portanto o mais próximo possível da linha do equador ainda dentro do território americano.
É fácil entender o porquê disso. Como a Terra gira em torno de si mesma ao redor de um eixo que passa pelos polos, quanto mais próximo da linha do equador, maior a circunferência descrita por um ponto na superfície da Terra ao longo de cada volta em torno do eixo de rotação. Como todos os pontos da superfície da Terra levam as mesmas 24 horas para completar uma volta, então os pontos mais próximos do equador têm que estar a uma velocidade maior – acontece a mesma coisa nos carrosséis de parques de diversão: quem senta em um cavalinho mais perto da borda vai mais rápido do que aqueles que ficam nos cavalos mais próximos ao centro do carrossel.
Assim, a bala de canhão na Flórida já está com mais velocidade do que se estivesse em outro ponto do território dos Estados Unidos, e a pólvora apenas acrescenta mais velocidade “para cima” a uma já grande velocidade para o leste (já que a rotação da Terra se dá de oeste para leste, o que você já sabe e nunca mais esquecerá se realmente leu A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, como sugeri no mês passado).
O grande problema com a ideia de alcançar a Lua numa bala de canhão é a aceleração necessária. Num foguete, como já expliquei aqui na coluna, as explosões controladas e contínuas vão empurrando e aumentando a velocidade aos poucos. Por outro lado, em um tiro de canhão, a bala passa de um estado de repouso para a velocidade máxima de uma só vez, em uma grande e única explosão. Os efeitos dessa superaceleração no corpo dos tripulantes seria destruidor. Desta vez, a ideia de Júlio Verne ficou só na ficção mesmo…