Em 27 de janeiro de 1859, nasceu em Berlim o pequeno Frederico Guilherme Victor Alberto Hohenzollern. Ele era uma criança com berço real, tendo como avô paterno Guilherme I, o kaiser (“imperador”, traduzindo para o português) da Alemanha, e como avó materna a rainha Vitória da Inglaterra.
O parto do bebê foi difícil e levou muitas horas. Por causa de um erro médico, o menino machucou seu braço esquerdo, que ficou atrofiado para o resto da vida. Apesar disso, o garoto cresceu saudável.
Em 15 de junho de 1888, após a morte do avô e do pai, Guilherme II, como passou a ser conhecido, tornou-se o novo Kaiser aos 39 anos de idade. Com uma personalidade difícil, o novo imperador era agitado, mandão e arrogante, o que fez com que muita gente, inclusive parentes, desgostasse dele. Mas, talvez, sua característica mais marcante tenha sido o bigode vasto e penteado para cima – uma verdadeira obra de arte da barbearia.
Enquanto Guilherme II governava na Alemanha, o pesquisador suíço Emílio Goeldi estudava a biodiversidade do Brasil. Em 1894, Goeldi, que morava no Rio de Janeiro, mudou-se para Belém, onde foi trabalhar no Museu Paraense de História Natural e Etnografia – atualmente, Museu Paraense Emílio Goeldi.
Em 1907, ano em que deixou o Brasil e voltou para sua terra natal, Goeldi publicou em uma revista especializada um trabalho que descrevia novas espécies de saguis amazônicos do gênero Midas, nome que faz referência a um rei da mitologia grega. Dentre as novidades, havia um tipo de sagui com um vasto bigode.
O pesquisador não vira os exemplares dessa espécie vivos, mas os homens que os coletaram lhe disseram que o bigode dos macaquinhos fazia uma curva para cima. Ora, quem possuía um bigode tão vistoso assim era ninguém menos que Guilherme II, o que levou Emílio Goeldi a nomear o sagui-bigodudo como Midas imperator (“imperador”, em latim).
Mas há um detalhe importante nisso tudo. Em vida, o bigode dos saguis não aponta para cima, mas para baixo, e o experiente Emílio Goeldi provavelmente sabia disso. Então, por que pentear os bigodes e dar à espécie um nome em homenagem ao imperador alemão? A verdade é que, naquela época, era mais fácil discordar das ideias de Guilherme II do que o contrário. O kaiser queria a todo custo tornar o Império Alemão uma potência superior ao Reino Unido e, para isso, mandou até construir uma esquadra de guerra maior que a dos ingleses.
Por outro lado, Emílio Goeldi era um amante da natureza e membro de organizações humanitárias e em favor da paz. Ao chamar sua nova espécie de Midas imperator, Goeldi não fez uma homenagem ao Kaiser Guilherme II, mas uma crítica, comparando-o a um macaquinho. Pobre sagui!