Olhos na escuridão

Quando o dia vai chegando ao fim, enquanto muitos animais se dirigem para seus abrigos, outros despertam. É nessa hora que um grande par de asas começa seu voo pela mata. Para as borboletas-coruja, o dia não terminou, mas está só começando. Não à toa, esses insetos ganharam dos cientistas o nome Caligo, “escuridão”, em latim.

A parte de cima das asas das borboletas-coruja geralmente varia em tons de cinza e azul, enquanto a parte de baixo lembra uma coruja com um grande par de olhos falsos. Experimentos em laboratório e na natureza confirmaram que os “falsos olhos” aumentam as chances de sobrevivência de uma borboleta.(foto: Didier Descouens / Wikimedia Commons / (a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/)CC BY-SA 3.0(/a))

A parte de cima das asas das borboletas-coruja geralmente varia em tons de cinza e azul, enquanto a parte de baixo lembra uma coruja com um grande par de olhos falsos. Experimentos em laboratório e na natureza confirmaram que os “falsos olhos” aumentam as chances de sobrevivência de uma borboleta.(foto: Didier Descouens / Wikimedia Commons / (a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)CC BY-SA 3.0(/a))

Com uma envergadura que pode passar dos 15 centímetros, as borboletas-coruja estão entre as maiores borboletas brasileiras, e entre as mais intrigantes também. A parte de baixo de suas asas possui cores que lembram as penas de uma coruja, incluindo duas grandes manchas em forma de olhos. Os cientistas já sabem que a presença desses desenhos aumenta as chances de sobrevivência das borboletas, mas ainda é difícil dizer por quê.

Uma possível explicação é que, quando um predador se aproxima da borboleta e vê as manchas nas asas, as confunde com dois grandes olhos e pensa erroneamente que a borboleta é, na verdade, um bicho ainda maior. Outra – a mais aceita pela comunidade científica até agora – é que os predadores não pensam que as manchas são grandes olhos, mas simplesmente se assustam com o contraste entre as manchas e as asas.

As borboletas-coruja costumam descansar em troncos de árvores durante o dia. Nesses momentos, elas ficam de asas fechadas e não é possível ver os dois “olhos” ao mesmo tempo. Por causa disso, um pesquisador sugeriu em 1976 que essas borboletas imitam uma perereca, e não uma coruja. Será? (foto: Gordon E. Robertson / Wikimedia Commons /(a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0) CC BY-AS 3.0(/a))

As borboletas-coruja costumam descansar em troncos de árvores durante o dia. Nesses momentos, elas ficam de asas fechadas e não é possível ver os dois “olhos” ao mesmo tempo. Por causa disso, um pesquisador sugeriu em 1976 que essas borboletas imitam uma perereca, e não uma coruja. Será? (foto: Gordon E. Robertson / Wikimedia Commons /(a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0) CC BY-SA 3.0(/a))

Cerca de 20 espécies de borboletas-coruja são conhecidas, todas vivendo nas Américas e muitas delas no Brasil. As primeiras a serem descobertas foram Caligo idomeneus e Caligo teucer, descritas pelo sueco Carl von Linné em 1758. Seus nomes fazem referência ao rei Idomeneu e ao herói Teucro da mitologia grega, que lutaram na guerra de Troia.

A ideia de dar às borboletas nomes de personagens lendários acabou virando moda e foi mantida por pesquisadores que descreveram outras espécies. É essa a origem de nomes como Caligo eurilochus, Caligo illioneus, Caligo telamonius, Caligo arisbe, Caligo oileus e Caligo euphorbus. Euríloco, Ilioneu, Télamon, Arisbe, Oileu e Euforbo são personagens dos mais famosos poemas gregos, “Ilíada” e “Odisseia”. Há ainda Caligo martia, cujo nome talvez se refira a Marte, deus romano conhecido como Ares pelos antigos gregos.

Mas nem toda espécie de borboleta-coruja recebeu o nome de uma personalidade mitológica. Caligo brasiliensis faz referência ao Brasil; Caligo placidianus parece ser uma homenagem ao general romano Placidiano, que viveu no século 3; e o nome Caligo beltrao é dedicado a Luís Beltrão, um oficial de justiça brasileiro que coletou os exemplares usados para descrição da espécie pelo pesquisador alemão Johann Illiger em 1801.