Olho por olho

Vamos fazer um jogo? Procure uma imagem, de preferência com alguns elementos, ou que mostre uma cena – pode ser um quadro, uma foto, uma ilustração de livro ou revista. Pense como você descreveria esta imagem e, se quiser, registre por escrito o que pensou. Feito? Mostre esta imagem para outras duas ou três pessoas e peça que elas também a descrevam. Mas não vale deixar que uma ouça a descrição da outra! Vá lá, eu aguardo…

Quadro do pintor francês Henri Rousseau em exibição no Museu de Arte Moderna de Nova York, nos Estados Unidos. Como você descreveria esta cena? (foto: Ralph Daily / Flickr / CC BY 2.0)

Quadro do pintor francês Henri Rousseau em exibição no Museu de Arte Moderna de Nova York, nos Estados Unidos. Como você descreveria esta cena? (foto: Ralph Daily / Flickr / CC BY 2.0)

E então? O que aconteceu? Posso arriscar um palpite? A imagem que você mostrou foi a mesma, mas cada pessoa a descreveu de um jeito diferente. Não foi assim? Acho que foi…

Pode repetir o jogo com objetos, com outras imagens, com textos ou mesmo com fatos – por exemplo, uma experiência que você dividiu com amigos ou familiares, como uma festa, um passeio, uma viagem, uma ida ao cinema, a chegada de um bebê etc. Cada um vai fazer sua própria descrição. Você tem algum palpite de por que isso acontece?

O que está em jogo é o ponto de vista. Cada pessoa vê, ouve e percebe as coisas de modo único. Essa maneira particular de percebermos imagens, objetos, textos, filmes, fatos etc. pode ser influenciada por muitos fatores: a época e o lugar em que vivemos, os valores e a cultura dos grupos a que pertencemos (família, escola, círculo social), o nível de conhecimento que possuímos e também fatores mais subjetivos, como o perfil emocional que desenvolvemos, ou seja, nosso jeito de lidar com as experiências pelas quais passamos – com maior ou menor otimismo, entusiasmo, alegria, envolvimento, interesse, curiosidade, coragem.

Por isso, quando você pede ao seu primo, à sua professora ou à sua melhor amiga para descrever o que veem numa foto, seu primo vai descrevê-la a partir do que sabe, do que sente, do que já vivenciou, do que estudou e aprendeu, das memórias que guardou, dos seus interesses, gostos e preferências. E sua melhor amiga… Também! Então, podemos concluir que, quando uma pessoa descreve algo, está falando tanto do objeto quanto de si mesma, está expressando quem ela é, sua própria história, sua bagagem, sua identidade.

Se você entrou no meu jogo e pediu para, digamos, oito pessoas descreverem uma imagem, então deve ter recebido como resposta oito diferentes descrições e, junto com elas, aprendeu muito sobre quem são essas pessoas – o que pensam, como se sentem, em que acreditam, do que gostam ou não. Legal, não é?

E meu jogo vem com mais um bônus: ele vai lhe ensinar sobre a diversidade de maneiras possíveis de perceber tudo que existe ao nosso redor. Cada um de nós, a partir de seu jeito de ser e de sua história, constrói seus próprios pontos de vista, suas opiniões, ideias e modos de ser. Quanto mais soubermos valorizar e respeitar essa diversidade, mais pontos de vista vamos poder conhecer e apreciar.

Trate de pegar aquela foto – que já deve estar amassadinha de tanto passar de mão em mão – e mostrar para a vizinha, para o motorista do ônibus, para o padeiro, para a jornaleira, para o seu avô… Assim, você terá a oportunidade de conhecer múltiplos olhares, ideias, pontos de vista. Concorde, discorde, encante-se!

Depois, volte aqui e me conte o que achou do jogo, o que aprendeu, o que sentiu e o que descobriu. Vou ficar esperando! Até o próximo encontro, aqui na ‘Ludoteca’…

Matéria publicada em 25.04.2016

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Marcia Stein

Sou jornalista e educadora. Escrevo histórias e outros tipos de textos, dou aulas para crianças e adultos e estou sempre estudando, investigando, buscando conhecer pessoas e coisas novas. Não sei se gosto mais de ensinar ou de aprender: gosto mesmo dos dois, e adoro compartilhar as coisas que aprendo!

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