Oásis na caatinga cearense

Árvores baixas e espinhosas, calor escaldante e clima quase sempre seco. Pensou no sertão nordestino? Acertou! Mas o nordeste brasileiro é tão rico que suas paisagens podem nos surpreender. Algumas regiões serranas, por exemplo, são tão úmidas e frescas quanto aquelas do sul e sudeste do Brasil. Essas regiões são chamadas de “brejos-de-altitude” e constituem áreas muito especiais para a conservação da biodiversidade.

Algumas regiões montanhosas do nordeste brasileiro são chamadas de brejos-de-altitude, pois são úmidas e ricas em fontes de água, como o Parque Nacional de Ubajara. (foto: Felipe Camurugi)

Algumas regiões montanhosas do nordeste brasileiro são chamadas de brejos-de-altitude, pois são úmidas e ricas em fontes de água, como o Parque Nacional de Ubajara. (foto: Felipe Camurugi)

Há milhares de anos, o nordeste era bem mais úmido e, ao contrário do que normalmente observamos hoje, havia ali uma extensa floresta tropical, onde Mata Atlântica e Amazônia se encontravam. À medida que o clima na região foi se tornando mais seco, essas florestas ficaram restritas a algumas regiões montanhosas. Por isso, os brejos-de-altitude são considerados verdadeiras relíquias da natureza.

A serra da Ibiapaba forma uma espécie de ilha tropical em plena caatinga cearense. Parte deste ambiente está protegida pelo Parque Nacional de Ubajara, que tem entre suas principais atrações um passeio de bondinho – ou teleférico – sobre a bela floresta. (foto: Wikimedia Commons/ deltafrut – CC BY 2.0)

A serra da Ibiapaba forma uma espécie de ilha tropical em plena caatinga cearense. Parte deste ambiente está protegida pelo Parque Nacional de Ubajara, que tem entre suas principais atrações um passeio de bondinho – ou teleférico – sobre a bela floresta. (foto: Wikimedia Commons/ deltafrut – CC BY 2.0)

A Serra da Ibiapaba, no Ceará, é um desses oásis, que tem cerca de duzentos quilômetros de extensão e pode chegar a quase mil metros de altitude. Cercada pela caatinga, esta serra é uma ilha de floresta tropical úmida que abriga inúmeras espécies de plantas e animais. Parte dessa riqueza está protegida pelo Parque Nacional de Ubajara.

O Parque Nacional de Ubajara abriga espécies importantes, como essa rãzinha-de-folhiço ((i)Adelophryne baturitensis(/i)) e a lagartixa-da-serra ((i)Colobosauroides cearenses(/i)), ambas encontradas apenas em alguns brejos-de-altitude do nordeste brasileiro. (foto: Adrian Garda)

O Parque Nacional de Ubajara abriga espécies importantes, como essa rãzinha-de-folhiço ((i)Adelophryne baturitensis(/i)) e a lagartixa-da-serra ((i)Colobosauroides cearenses(/i)), ambas encontradas apenas em alguns brejos-de-altitude do nordeste brasileiro. (foto: Adrian Garda)

Na região ocorre o curioso encontro entre espécies de ambientes muito diferentes. Assim, é possível encontrar ali animais típicos do semiárido, como o periquito-da-caatinga, o pica-pau-anão-pintado e o mocó, mas também animais acostumados ao clima úmido das florestas tropicais, como alguns anfíbios e lagartos mais comumente encontrados na Amazônia e Mata Atlântica.

Pica-pau-anão-pintado ((i)Picumnus pygmaeus(/i)), endêmico da caatinga. (foto: João Quental/ Flickr – CC BY 2.0)

Pica-pau-anão-pintado ((i)Picumnus pygmaeus(/i)), endêmico da caatinga. (foto: João Quental/ Flickr – CC BY 2.0)

Além de proteger a biodiversidade este parque preserva também onze cavernas, algumas delas com nomes bem curiosos, como a Furna das Pipocas, Furna da Múmia, Gruta do Pendurado e Gruta do Urso Fóssil. Esta última é chamada assim porque nela foi encontrado um crânio com cerca de 10.000 anos de uma extinta espécie de urso que vivia no Brasil.

O parque possui pelo menos 11 cavernas, sendo a gruta de Ubajara a maior delas e a única aberta à visitação. (foto: Otávio Nogueira/ Flickr – CC BY 2.0)

O parque possui pelo menos 11 cavernas, sendo a gruta de Ubajara a maior delas e a única aberta à visitação. (foto: Otávio Nogueira/ Flickr – CC BY 2.0)

Quem visitar o Parque Nacional de Ubajara ainda pode caminhar pelas trilhas ecológicas, nadar nas cachoeiras, observar a natureza nos mirantes e até em um teleférico suspenso sobre uma paisagem de tirar o fôlego. É ou não é um verdadeiro oásis em pleno sertão nordestino?


vinicius_novo

Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos

Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.