A palavra “camarão” tem origem no latim (i)cammarus(/i), que, por sua vez, surgiu a partir do grego (i)kámmaros(/i) (“lagosta”). Os indígenas costumavam chamar esses animais de poti, que alguns estudiosos acreditam significar “duro”, “mão pontiaguda”, ou até “mão apertada”. Quem nasce no estado do Rio Grande do Norte é chamado de potiguar ou potiguara, “comedor de camarões” em tupi. (foto: The World Fish Center / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)
Se você observar um camarão com cuidado, verá, contudo, que ele tem mais de dez pés. Ué, como assim? É que na verdade os “pés” – e pernas – que lhes dão o nome Decapoda são os cinco pares de pereópodes (“pés transportadores”, em grego), localizados no meio do corpo.
Existem centenas de espécies de camarões conhecidas. A maioria vive no mar, mas algumas gostam mesmo é da água doce de rios e lagos. Aqui no Brasil a espécie de água doce mais conhecida, pescada e consumida é a Macrobrachium carcinus, popularmente chamada de pitu (“casca escura”, em tupi-guarani). Seu nome científico pode ser traduzido do grego como “crustáceo de braço grande”, em referência a um longo par de pernas com pinças que esta espécie possui.
O pitu é o maior camarão de água doce do mundo, podendo medir até 30 centímetros de comprimento e pesar quase um quilo. (foto: Hans Hillewaert / Wikipedia / CC BY-SA 4.0)
E aquele camarão gostoso que é vendido na praia e encontrado em muitos restaurantes? A que espécie pertence? Nesse caso a resposta pode variar. Em nosso país existem vários tipos de camarões marinhos que são pescados e vendidos para consumo, sendo a maioria do gênero Penaeus (nome em homenagem a Peneus, um deus grego). Por exemplo, são muito consumidos por aqui o camarão-branco (Penaeus schmitti), o camarão-vermelho (Penaeus subtilis) e o camarão-rosa (Penaeus brasiliensis e Penaeus paulensis), todos nativos do nosso litoral.
O camarão-vermelho é uma das espécies marinhas nativas do Brasil mais consumidas pela população. Vive entre 1 e 190 metros de profundidade e pode atingir 20 centímetros de comprimento. (foto: Tomas Willems / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)
O nome científico do camarão-branco é uma homenagem ao carcinólogo (especialista em crustáceos) Waldo Schmitt. Já o nome do camarão-vermelho significa “fino” em latim, em referência a um sulco que a espécie possui na carapaça, mais estreito que o das outras. Por fim, a origem do nome científico dos camarões-rosa faz referência ao Brasil e ao estado de São Paulo, onde foram coletados os indivíduos usados para descrever essas espécies pela primeira vez.
Apesar do nome, o “camarão-sete-barbas” tem apenas seis “barbas”, que são, na verdade, um par de antenas e dois pares de pernas mais longos que os outros. (foto: Tomas Willems / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)
Outra espécie bastante vendida em alguns mercados de frutos do mar é a Xiphopenaeus kroyeri, conhecida como camarão-sete-barbas. O nome do gênero pode ser traduzido do grego como “o Penaeus [camarão] de espada”, por conta do formato de seu rostro – uma estrutura alongada e serrilhada localizada no topo da “cabeça” dos camarões. Já o nome específico é uma homenagem a Henrik Nikolai Krøyer, cientista dinamarquês que viveu entre 1799 e 1870.
O camarão-branco-do-Pacífico é originário de uma região que se estende do litoral do México ao Peru, no oceano Pacífico, bem longe das praias brasileiras. É esta a espécie criada em fazendas de camarão no Brasil. Só em 2014, foram produzidas por aqui cerca de 90 mil toneladas desse camarão. (foto: A.M. Arias / www.ictioterm.es / CC BY-NC-ND 3.0 ES)
E se eu te disser agora que a maioria dos camarões consumidos no Brasil vem de fazendas? Isso mesmo! Existem, no litoral brasileiro, especialmente no nordeste, fazendas que criam camarões. Mas, curiosamente, elas não criam espécies nativas. Após várias tentativas ao longo dos anos, a espécie que até agora melhor se adaptou e deu mais lucro às fazendas foi o camarão-branco-do-Pacífico, trazido para cá para fins comerciais. Os cientistas o chamam de Penaeus vannamei, em homenagem ao zoólogo norte-americano Willard Van Name.
Depois desse papo todo sobre camarões, já escolhi o meu almoço de hoje. Vou de estrogonofe de camarão. Que tal?
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!