Memórias de uma festa

Os preparativos para a festa junina haviam começado há dois meses. A escola inteira estava motivada para o que seria a maior de todas as festas. Ensaiávamos diariamente a quadrilha por mais de duas horas. Era um tal de alavantú prá cá e anarriê prá lá intermináveis.

O bolo de fubá era garantia de sucesso na noite de São João. Para completar, só mesmo uma grande fogueira e um pouco de quentão. (foto: Eduardo Hulshof / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/deed.pt)CC BY 2.0(/a))

O bolo de fubá era garantia de sucesso na noite de São João. Para completar, só mesmo uma grande fogueira e um pouco de quentão. (foto: Eduardo Hulshof / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/deed.pt)CC BY 2.0(/a))

“O balão vai subindo, vai caindo a garoa,
O céu é tão lindo e a noite é tão boa,
São João, São João
Esquenta a fogueira
Do meu coração…”

E se não esquentasse, lá estariam os balões e quentões.  Cural e mingau. A escola inteira enfeitada e preparada naquele sábado enevoado, na véspera do dia de São João.

Lá se foi meu pé. Que dor doída, principalmente a de não festejar no arrasta-pé da quadrilha junina. (foto: adaptado de Bruna M. / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0)CC BY-NC-SA 2.0(/a))

Lá se foi meu pé. Que dor doída, principalmente a de não festejar no arrasta-pé da quadrilha junina. (foto: adaptado de Bruna M. / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0)CC BY-NC-SA 2.0(/a))

No final da tarde, ao sair do último dos ensaios, despenquei de cima de um palco caprichado em bandeirolas. Assim, lá se foi meu pé, enfaixado em uma padiola. E como doeu. Dor doída no pé e dor moída de tristeza.

Imagine agora um tombo bem maior. Bem maior mesmo. Um dinossauro que dê um tropeção e… VAPT! Direto para o chão. Será que conseguiríamos reconhecer por meio de um fóssil as quedas ou doenças dos animais pré-históricos?

Observe que neste osso de dinossauro quebrado, a cicatrização deixou uma pequena protuberância no local da quebra. (foto: Andrew Farke, Ewan Wolff, Darren Tanke / Plos One / (a href= http://creativecommons.org/licenses/by/2.5)CC BY 2.5(/a))

Observe que, neste osso de dinossauro quebrado, a cicatrização deixou uma pequena protuberância no local da quebra. (foto: Andrew Farke, Ewan Wolff, Darren Tanke / Plos One / (a href= http://creativecommons.org/licenses/by/2.5)CC BY 2.5(/a))

Sim, isso é possível. Quedas e brigas podem deixar o osso partido e, quando ele se recupera, fica uma pequena protuberância ou calo no local da quebra. Além disso, muitas doenças como a osteoporose e a artrose também deixam cicatrizes nos ossos, indicando as doenças sofridas pelos animais da pré-história.

A área que estuda as doenças que afetavam os animais no passado é conhecida como paleopatologia. Reconhecer essas doenças é uma forma de entender como eles viviam e se relacionavam com o ambiente e com outros animais.

Outras marcas, como as de mordida por outro dinossauro, podem ser preservadas nos ossos fósseis. (foto: Logrich et al / Plos One / (a href= http://creativecommons.org/licenses/by/2.5)CC BY 2.5(/a))

Outras marcas, como as de mordida por outro dinossauro, podem ser preservadas nos ossos fósseis. (foto: Logrich et al / Plos One / (a href= http://creativecommons.org/licenses/by/2.5)CC BY 2.5(/a))

Com o pé enfaixado, não dancei a quadrilha. Naquele incrível arraiá, em que havia fartura de bolo de fubá e munguzá, São João não esquentou meu coração. Porém, a garoa fininha se foi e o céu estrelado levou embora minha tristeza: a de não ter dançado com a menina de cabelo trançado.