Não é segredo para ninguém que o Brasil é repleto de belos lugares e lindas paisagens. O Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, é um exemplo disso, com suas exuberantes cachoeiras e uma rica diversidade de plantas e animais. Tive o prazer de visitar o parque e fiquei deslumbrado. Mas quem não ficaria?
Na minha rápida visita, observei algumas aves, vi de perto um casal de veados-campeiros e dei de frente com uma serpente cruzando a estrada. Mas há um morador muito especial da Canastra que não tive o prazer de encontrar: o pato-mergulhão.
O pato-mergulhão é uma ave que vive em rios de águas limpas, com corredeiras, poças naturais e leito rochoso – um lar, diga-se de passagem, cada vez mais difícil de encontrar, devido às alterações que o ser humano causa à natureza.
A fêmea choca seus ovos num ninho construído no oco de árvores, em paredões rochosos ou nos barrancos do rio. Com a retirada das matas nas margens dos rios, suas chances de construir um ninho são muito menores. Além disso, o desmatamento leva terra para a água, que fica turva e impede a ave de enxergar os peixes dos quais se alimenta. Não é à toa que o pato-mergulhão é considerado uma espécie criticamente ameaçada de extinção!
No passado, o pato-mergulhão vivia em uma grande área ao longo da Mata Atlântica e do Cerrado no Brasil, Argentina e Paraguai. Hoje, acredita-se que não restem mais de dez deles na Argentina, e que a espécie tenha sido extinta no Paraguai e nos estados brasileiros de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Estima-se que menos de 250 indivíduos sobrevivam em alguns rios do Paraná, Minas Gerais, Goiás, Tocantins e talvez da Bahia.
Penteado elegante
O pato-mergulhão foi batizado em 1817 pelo naturalista francês Louis Jean Pierre Vieillot, que lhe deu o nome científico Mergus octosetaceus. Mergus significa “mergulhador” em latim, e se refere ao seu hábito de mergulhar na água para se alimentar. Já o elegante penacho que esta ave possui na cabeça deu origem ao nome específico octosetaceus, que, em latim, quer dizer “com oito cerdas” – isso porque o exemplar de pato-mergulhão que Vieillot usou para nomear a espécie possuía oito penas em seu penacho, mas esse número pode variar.
Triste destino
Das cinco espécies do gênero Mergus conhecidas no mundo, uma já desapareceu para sempre: Mergus australis. Essa ave era encontrada apenas nas Ilhas Auckland, na Nova Zelândia, e por isso ganhou o nome australis, que significa “sul” em latim. Desde 1902, nenhum indivíduo é encontrado, e a espécie passou a ser considerada extinta.