Havia uma pequena tipografia no final da rua onde trabalhava um senhor conhecido como Seu Lelé. Era a única existente em toda a cidade e, assim, cartazes, convites, propagandas e até mesmo o jornal mensal saíam de suas máquinas. Num tempo em que não havia computadores, fotocopiadoras ou aparelhos eletrônicos, cada palavra impressa era pacientemente montada em sucessivas letras de metal – um exercício de enorme paciência e extremamente demorado. Letra após letra, formavam-se palavras, sentenças e parágrafos, compondo textos geralmente curtos e sem fotografias.
Assim, construía-se mensalmente o Jornal do Seu Lelé. Por vezes, atrasava e as notícias – que já não eram muito novas – ficavam cada vez mais velhinhas. Mesmo assim, o jornal era esperado com impaciência. Lá estavam as notícias de nascimentos, casamentos, enterros e aniversários. Era meio estranho, porém refletia nosso cotidiano e registrava o progressivo transformar de nossas vidas. Por mais importante que fosse um evento, se não estivesse documentado por Seu Lelé, simplesmente jamais teria existido.
Algo parecido ocorre com nosso planeta. As rochas, os minerais e os fósseis, à semelhança das letras de metal de uma tipografia, compõem as palavras que nos contam sobre os eventos que se passaram em nosso planeta. Se não estão presentes, parte da história da Terra se perde para sempre, impossibilitando que consigamos ler o Jornal do Mundo.
Nele, as rochas nos contam tanto o dia a dia dos ambientes sobre a superfície quanto os eventos que se passam em seu interior. Os minerais, como parte das rochas, nos informam fatos muito variados, como a temperatura da água dos mares primitivos, a idade das rochas e até mesmo o clima do passado. Já os fósseis, restos preservados de animais e plantas, relatam as trajetórias de transformações pelas quais a vida passou ao longo do tempo, mostrando-nos o surgimento de novas espécies, além do desaparecimento de outras para sempre.
Por vezes, as histórias que a Terra nos conta mostram o quão conturbados foram certos momentos de seu passado. Entre eles, vulcões e terremotos implacáveis que destruíram tudo o que era vivo e se encontrava ao seu redor, maremotos e tempestades estrondosas que modelavam e esculpiam a superfície de nosso mundo. Mas, em outras ocasiões, nosso planeta conta a tranquilidade do tempo bom e da calmaria que possibilita a diversidade e a proliferação da vida.
O Jornal do Seu Lelé era mesmo parecido com o Jornal do Mundo: suas notícias se acumulavam no decorrer do tempo e, assim como as da Terra, mostravam que nossa rotina do presente será sempre o passado do futuro.