Em cima, embaixo – e vice-versa

Pegue um mapa-múndi. O que aparece lá em cima? O polo Norte, acertei? Na maioria dos mapas é assim! Mas você sabia que não existe parte “de cima” ou “de baixo” da Terra? A representação dos continentes e dos mares desta maneira não passa de convenção, isto é, de um “combinado” para que todos representem o mundo de forma parecida. De tanto a gente ver as coisas desse jeito, acaba se acostumando…

Mapa-múndi invertido. O argumento é que, já que a direção utilizada nos mapas é só uma convenção, tanto faz invertê-la ou não. Parece que as pessoas associam estar em cima como uma coisa boa, e estar em baixo como uma coisa ruim. Esquisito ou não, ao vermos o mapa invertido, temos uma sensação de que há algo muito errado no mundo... Ou será só falta de costume? (Imagem: Wikimedia Commons)

Mapa-múndi invertido. O argumento é que, já que a direção utilizada nos mapas é só uma convenção, tanto faz invertê-la ou não. Parece que as pessoas associam estar em cima como uma coisa boa, e estar em baixo como uma coisa ruim. Esquisito ou não, ao vermos o mapa invertido, temos uma sensação de que há algo muito errado no mundo… Ou será só falta de costume? (Imagem: Wikimedia Commons)

Nem todo mundo fica feliz com isso. Alguns países do hemisfério Sul acham injusto aparecerem sempre na parte de baixo dos mapas, como se as nações do hemisfério Norte estivessem sempre em uma posição de superioridade. Por isso, na Austrália, por exemplo, decidiram publicar mapas com o polo Sul na parte mais alta e o polo Norte na mais baixa – tudo de cabeça para baixo, em relação às representações mais comuns do globo.

Um mapa muito interessante foi proposto em 1943 por Richard Buckminster Fuller. Ele pensou os continentes como se estivessem não numa esfera, mas sobre um icosaedro, figura composta por 20 lados triangulares (à esquerda). Dependendo de como se "abre" o icosaedro, pode-se representar o mundo de maneiras diferentes. Em uma delas (à direita), fica evidente como todos os continentes estão praticamente conectados uns aos outros, o que permitiu ao ser humano se espalhar por todos eles (Imagem: Wikimedia Commons)

Um mapa muito interessante foi proposto em 1943 por Richard Buckminster Fuller. Ele pensou os continentes como se estivessem não numa esfera, mas sobre um icosaedro, figura composta por 20 lados triangulares (à esquerda). Dependendo de como se “abre” o icosaedro, pode-se representar o mundo de maneiras diferentes. Em uma delas (à direita), fica evidente como todos os continentes estão praticamente conectados uns aos outros, o que permitiu ao ser humano se espalhar por todos eles (Imagem: Wikimedia Commons)

Há outros motivos para representar um mapa do mundo em outras posições. Muitos mapas europeus medievais – ou seja, que foram feitos antes da descoberta das Américas pelos europeus – representavam o mundo conhecido com a cidade de Jerusalém no centro e o leste (oriente) na parte de cima do mapa. Isso fazia com que na parte de baixo aparecessem a Europa (à esquerda) e a África (à direita), separadas pelo mar Mediterrâneo.

Essa disposição dos continentes atendia a uma ideia religiosa: ir até Jerusalém, para um peregrino europeu da Idade Média, correspondia a uma elevação espiritual. No mapa, isso estava representado na medida em que, para ir da Europa para Jerusalém, era preciso ir para cima. Desta tradição veio o termo “se orientar”, já que Jerusalém ficava a leste da Europa, no oriente.

ONU

No símbolo da Organização das Nações Unidas, a linha vertical do meio corresponde ao meridiano de Greenwhich, que divide o mundo em leste (à direita) e oeste (à esquerda). O centro é o polo Norte, e os continentes aparecem ao redor dele. Assim, quase nenhum país fica “de cabeça para baixo”! (Imagem: Wikimedia Commons)

Há ainda muitas outras maneiras de representar os continentes. Quando a Organização das Nações Unidas (ONU) estava sendo criada, em 1945, os organizadores buscavam um símbolo, e quem deu a ideia mais bacana foi o arquiteto americano Donal McLaughlin.

Ele sugeriu usarem um mapa do mundo com o centro no polo Norte, de modo que todos os países-membros da organização apareceriam no mapa, abraçados pelos dois ramos de oliveira que representam a paz. A solução foi possível porque o continente Antártico, em torno do polo Sul, e que não aparece no mapa, não é parte de nenhum país.

Agora você já sabe que há muitas maneiras de desenhar o mapa-múndi. Então, por que se convencionou colocar o Norte para cima? Uma possível resposta é que os mapas não eram feitos para serem pendurados na parede, na vertical, mas para serem usados sobre mesas horizontais com o auxílio de uma bússola.

A bússola alinha sua agulha com a direção Norte-Sul, que é a direção do campo magnético da Terra, e os navegadores precisavam marcar as direções em que estavam navegando sempre em relação a essa direção. Talvez tenham escolhido o Norte como referência – e não o Sul – porque, ao retornar para casa depois de navegar no mar Mediterrâneo, os navegadores italianos (os primeiros a usarem a bússola com uma marcação de direções) tinham que navegar para o Norte.

Imagino que deve ter sido isso que, com o perdão do trocadilho, norteou a escolha deles. Desde então, essa escolha ficou incorporada à nossa linguagem e cultura, e mexeu com a nossa forma de ver o mundo!

Foto invertida

(Imagem: Wikimedia Commons)

(Imagem: Wikimedia Commons)

Um astronauta a bordo da nave Apollo 17, em seu caminho em direção à Lua em 1972, tirou uma foto da face iluminada da Terra. Esta foto ficou famosa, conhecida como “bola de gude azul”. Eu mesmo quando adolescente lembro de ter comprado um pôster com esta foto e pendurado no meu quarto. A foto original (que você vê à direita) mostrava a Antártida “em cima”, e a África “de cabeça para baixo”, mas, em todas as reproduções, as pessoas julgaram razoável inverter a foto para facilitar o reconhecimento dos continentes. Isso mostra como esta convenção está consolidada na nossa cabeça.