Se você já foi à praia, provavelmente deve ter visto um siri. Esse invertebrado faz parte do grupo dos crustáceos, que inclui ainda os caranguejos, os camarões, as lagostas e os tatuzinhos-de-jardim. Em todo o mundo, há cerca de 450 espécies conhecidas de siris, que habitam sempre o litoral e precisam de água salgada para sobreviver.
No Brasil, existem aproximadamente 20 espécies nativas desses invertebrados. Algumas chamam atenção pela cor, como os “siris-azuis” do gênero Callinectes, nome que significa “nadador bonito”, em grego, uma referência à beleza desses animais e à sua habilidade para a natação.
As espécies de Callinectes, no entanto, não atraem apenas pela aparência. Elas também são apreciadas pelo sabor de sua carne, em especial o Callinectes sapidus, que não ganhou este nome à toa: em latim, sapidusquer dizer “saboroso”.
A palavra “crustáceo” vem do latim Crustacea, que quer dizer “animal com casca”. Este nome foi dado justamente por esses animais apresentarem o corpo coberto por uma carapaça formada por um esqueleto externo, conhecido como exoesqueleto. Atualmente, existem 50 mil espécies conhecidas de crustáceos no mundo.
Viajantes indesejados
Nos últimos anos, duas espécies de siris não-nativas do Brasil foram encontradas em nossas praias: Scylla serrata (siri-serrado) e Charybdis hellerii (siri-de-Heller). Como ambas são originárias dos oceanos Índico e Pacífico, acredita-se que suas larvas tenham sido transportadas acidentalmente para o litoral brasileiro pela água de lastro de navios cargueiros.
Siri é uma palavra indígena da língua tupi e significa “aquele que desliza”, provavelmente por causa da maneira ágil com a qual estes animais “deslizam” na água enquanto nadam.
Para garantir a segurança e estabilidade durante a viagem pelos oceanos, as embarcações captam água do mar, que é mantida em seu interior e depois liberada. Esta é a chamada “água de lastro”, que traz enormes riscos aos ecossistemas, pois transporta acidentalmente espécies de uma região para outra, onde elas não ocorrem naturalmente. As espécies invasoras podem, por exemplo, devorar, competir por alimento e abrigo ou transmitir doenças às espécies nativas, ameaçando sua existência.
O curioso é que os gêneros a que pertencem esses siris – Scylla e Charybdis – têm o mesmo nome de dois monstros mitológicos gregos (Cila e Caríbdis, em português). Segundo se conta, as duas criaturas viviam no Estreito de Messina, uma região no sul da Itália. Atravessar esse estreito era uma missão quase impossível para os barcos. Tudo porque, quando se passava longe de uma das feras, chegava-se perto demais da outra. Já imaginou?
Pois essa história, além de ajudar a batizar duas espécies de siris, também rendeu um dito popular. Quando alguém se encontra entre duas situações difíceis, onde fugir de uma delas significa ter que enfrentar a outra, pode dizer que está “entre Cila e Caríbdis”, em referência à mitologia grega. O triste é que esse parece ser literalmente o problema enfrentado pelos siris brasileiros, que se encontram ameaçados pela invasão das espécies Scylla serrata e Charybdis hellerii em nosso litoral.
Se Scylla e Charybdis se referem a monstros mitológicos, o que dizer das palavras serrata e hellerii, que completam os nomes científicos das espécies de siris que invadiram a costa brasileira? Enquanto serrata faz referência à carapaça serrilhada do siri-serrado, hellerii é uma homenagem ao carcinologista (pesquisador que estuda crustáceos) Camill Heller.
Os siris andam de lado, não para frente, como nós. Mas por que será? A resposta é simples: as articulações das pernas desses crustáceos são laterais, o que dificulta caminhar para frente (da mesma forma como você terá dificuldade em andar de lado, se tentar). Mas algumas espécies de caranguejos, parentes próximos dos siris, conseguem caminhar normalmente para frente e para trás.